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A América Dividida - II

- HEITOR DE PAOLA - MÍDIA SEM MASCARA - 12 DE JANEIRO DE 2005 -


O que houve na América, naquele período, era muito mais uma profunda divisão moral e religiosa acerca principalmente da escravidão, às quais se acrescentaram razões econômicas como superestrutura que ameaçavam o País de uma ruptura radical: a Secessão. Já no seu discurso de posse em 1861, Abraham Lincoln dizia: In your hands, my dissatisfied fellow countrymen, and not in mine, is the momentous issue of civil war. The government will not assail you… You have no oath registered in Heaven to destroy the government, while I shall have the most solemn one to ‘preserve, protect and defend’ it.



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Primeiro tomaremos o Leste da Europa, depois,as massas da Ásia. Então, cercaremos a América,última fortaleza do capitalismo. Nem precisaremosatacar. Ela cairá no nosso colo como uma fruta podre. Vladimir Ilyitch Lenin


Inicio com uma reflexão e uma hipótese. Estamos tão acostumados à visão marxista da história que, mesmo os que não aceitam explicitamente seus demais postulados, tendem a utilizar seu método de análise histórica – o materialismo histórico – a primazia das ‘condições materiais de existência’ como determinantes das superestruturas morais e religiosas. Estudando a Guerra Civil Americana, cada vez eu me convencia mais de que as razões econômicas eram absolutamente secundárias. O que houve na América, naquele período, era muito mais uma profunda divisão moral e religiosa acerca principalmente da escravidão, às quais se acrescentaram razões econômicas como superestrutura que ameaçavam o País de uma ruptura radical: a Secessão. Já no seu discurso de posse em 1861, Abraham Lincoln dizia:

In your hands, my dissatisfied fellow countrymen, and not in mine, is the momentous issue of civil war. The government will not assail you… You have no oath registered in Heaven to destroy the government, while I shall have the most solemn one to ‘preserve, protect and defend’ it. Lincoln seguia piamente as palavras constitucionais de seu juramento, dizendo-se Presidente de one Nation, under God, indivisible, hoje, a parte mais atacada do Pledge of Allegiance. Sugiro como hipótese que a Guerra Civil Americana estava entre os assuntos estudados mais a fundo pelos elaboradores da Grande Estratégia comunista, chegando à conclusão de que os EUA só se dividem por problemas morais e/ou religiosos. Os comunistas abandonaram o materialismo histórico há muito – só em alguns países do Ocidente ainda se acredita naquela xaropada. Tendo verificado que era impossível vencer militar ou economicamente os EUA, só havia este meio demorado, mas eficaz: desmoralizar e destruir por dentro o american way of life, a moral e a religião que são a argamassa que mantém aquele País unido. *** A mais importante tarefa foi a de desmoralizar o anti-comunismo como anacronismo reacionário e obstáculo à re-estruturação mundial – leia-se governo mundial - e à paz. Foram utilizados jornalistas regiamente pagos, como Wilfred Burchett que fazia reportagens contra a ação americana no Vietnã e exaltava a ‘maior cultura’ dos vietnamitas que estavam apenas ‘defendendo sua pátria’ da agressão americana – como já havia feito na Guerra da Coréia. A fuga de seu agente controlador Yuri Vassilievitch Krotkov, cujo codinome era George Kalin, para a Inglaterra em 1963, revelou ao mundo sua ação de subverter jornalistas ocidentais e trair diplomatas ocidentais em Berlim, desde 1946. A abertura dos arquivos de Moscou confirmou e como se não bastasse, a viúva de Burchett recebeu a comenda ‘Ordem da Amizade’ da Coréia do Norte. Outra frente, que vou apenas citar de passagem aqui, era conseguir isolar os EUA dos seus tradicionais aliados europeus e mostrar os EUA, com seu anacronismo anticomunista, e não a URSS, como a maior causa da instabilidade internacional e a principal ameaça à paz mundial ou, ao menos, despertar a cínica tendência de não ver diferenças fundamentais entre os dois regimes. Para isto foram utilizados diversos “agentes de influência” como, p. ex., outro jornalista, Pierre-Charles Path que por duas décadas concentrou esforços em minar as relações franco-americanas. Mas ele foi apenas um entre muitos que influenciaram até mesmo De Gaulle a retirar a França da participação militar na OTAN. Quem quer que tenha vivido as décadas de 70 a 90 deve ter ouvido sempre os mesmos argumentos quando alguém criticava o comunismo: está bem, mas ninguém é anjo, o capitalismo também tem seus pontos negativos – ou então, que os americanos também apoiavam regimes ditatoriais –, ou foram os americanos que jogaram as duas únicas bombas atômicas da história –, ou os americanos só pensam nos seus próprios interesses. Coisas óbvias, ainda hoje ouvidas em quaisquer reuniões de bem-falantes, mas cuja intenção não era óbvia. Inseminaram-se por via subliminar, de maneira a fazer com que a pessoa achasse que estava ‘olhando com seus próprios olhos’ ou sendo original. Nada disto: desinformatsiya pura! As sementes para a futura campanha contra a guerra do Vietnã foram lançadas durante a campanha presidencial de Henry Wallace, candidato do Partido Progressista em 1948, que afastou do Partido Democrata a esquerda anti-americana. Esta mesma esquerda constituída de idiotas úteis e agentes diretos mencionada na primeira parte, obra brilhante de Münzenberg, sob as ordens de Féliks Dzerjinsky (A história da infiltração no período entre-guerras merece um artigo à parte). Esta voltaria às suas fileiras durante a campanha do Vietnã. Em junho de 1962 reuniram-se em Port Huron, Michigan, estudantes das mais diversas universidades americanas para formarem a Students for A Democratic Society (SDS), onde imperavam palavras de ordem que rejeitavam a América e sua cultura, negavam que a Guerra Fria era culpa da URSS – essencialmente pacífica pois precisava de tranqüilidade para desenvolver seu socialismo, um sistema mais humano que o capitalismo americano. Deste encontro resultou um manifesto baseado num texto elaborado por Tom Hayden – futuro Senador e futuro marido de Jane Fonda - (baseado nos escritos do sociólogo radical C. Wright Mills): o Port Huron Statement of the Students for a Democratic Society, o documento da New Left de maior circulação na década. Sua importância nunca foi devidamente avaliada mesmo nos EUA; aqui no Brasil, que eu saiba, é um ilustre desconhecido de nossas ‘elites intelectuais’. Este documento é de enorme relevância para entendermos o que se passa até hoje nos EUA, pois foi ali que nasceu o movimento contra a guerra do Vietnã que dividiu a sociedade americana de maneira quase irreversível e lançou no opróbrio as Forças Armadas, e onde também foram lançadas as bases da moderna versão da New Age e do Governo Mundial, para os quais, a divisão da América é condição sine qua non (Ver parte III, a seguir). As grandes agitações universitárias do final da década tiveram aí sua origem. Neste mesmo ano ocorreu a primeira manifestação em Berkeley, Califórnia. Seria ingenuidade não perceber a ação da desinformatsiya para romper as hostes inimigas, evocando as piores suspeitas e pensamentos entre eles. É de se notar que o candidato à Presidência derrotado em 2004, John Kerry, tão logo deu baixa, uniu-se a estes movimentos, traindo sua condição de veterano de guerra. Em 1968, Tom Hayden conseguiu tumultuar de tal maneira a Convenção do Partido Democrata que pôs por terra as chances de Hubert Humphrey, candidato do então Presidente Johnson e, como ele, a favor da continuação e aprofundamento da Guerra no Sudeste asiático. Nixon ganhou as eleições e já em 71 cancelou as convocações obrigatórias – drafts – que eram, na aparência, a principal reivindicação da juventude: o retorno às Forças Armadas voluntárias. Embora este ato tenha acalmado um pouco as manifestações, logo, logo a mentira apareceu: não era nada disto, era um movimento anti-americano mesmo! A vanguarda do movimento – entre os principais se encontravam novamente John Kerry, Tom Hayden e Jane Fonda – fundaram um “tribunal de crimes de guerra”, condenando o papel americano do Vietnã. Não foi coincidência que Bertrand Russel fundou o Tribunal Internacional com idêntica intenção. Em 1972 os mesmos ativistas se uniram na campanha do mais radical esquerdista do Partido Democrata, George McGovern, derrotado pela reeleição de Nixon. McGovern defendia a supressão total de ajuda ao Vietnã do Sul e ao Camboja, abrindo caminho para a conquista comunista destes países, o que veio a ocorrer quando Nixon renunciou em 1975 em função do escândalo Watergate. Nixon e os defensores da guerra alertaram que a queda de qualquer um daqueles países acarretaria a queda de todos os demais – a famosa “teoria do dominó”, tão negada pelos esquerdistas - o que acarretaria um banho de sangue no Sudeste Asiático. A esquerda negava, dizendo que era uma mera desculpa para a agressão imperialista. Porém, foi exatamente o que aconteceu! Lembram Pol Pot e seus dois milhões de cambojanos barbaramente assassinados? Segundo David Horowitz: “o tempo provou que os ativistas contra a guerra (e ele tinha sido um deles) estavam trágica e catastroficamente errados, mas nunca tiveram a decência de admiti-lo”. O REFLUXO INESPERADO E A REAÇÃO Uma democracia só pode tomar decisões inteligentes sobre seu futuro se tiver uma clara percepção da realidade, pois a intenção dos métodos ativos de desinformação é exatamente distorcer esta realidade. RICHARD H. SCHULTZ & ROY GODSON DEZINFORMATSIYA: ACTIVE MEASURES IN SOVIET STRATEGY. A humilhação da falsa derrota no Vietnã não foi o suficiente. A eleição de Ronald Reagan em 1980 foi um revés violento. Com a restauração dos valores americanos tradicionais e a revitalização do papel das Forças Armadas, tornou-se mais difícil romper o pacto americano. Era preciso aprofundar a estratégia de acordo com as novas “condições objetivas”. Embora tenha sido um dos mais importantes Presidentes da história dos EUA, a “era Reagan” foi cheia de falhas, principalmente em seguir a recomendação de Schultz & Godson, em epígrafe. Além de Reagan, estes anos foram marcados por outras duas fortes personalidades na luta contra o comunismo: Margareth Thatcher e o Papa João Paulo II. Apesar da excelente conjunção que este trio representava, havia um calcanhar de Aquiles: o excessivo triunfalismo que tomou conta da América e do Ocidente. Muito contribuiu também o charme de Mikhail e Raíssa Gorbachëva que encantou e iludiu ao menos a Reagan e Thatcher. Acreditou-se em tudo o que os soviéticos queriam que se acreditasse, não levando em conta que o próprio Gorbachëv anunciara em seu livro Perestroika, Novas Idéias para meu País e o Mundo, que a fonte ideológica da Perestroika era Lenin: “As obras de Lenin e seus ideais socialistas permaneceram conosco como fonte inesgotável de pensamento dialético criativo, riqueza teórica e sagacidade política (...) Voltar-se para Lenin estimulou grandemente o partido e a sociedade em sua busca de explicações e respostas às questões que surgiam”. Poderia ter sido mais claro? Não seria de desconfiar que uma imensa farsa estava montada e se desenrolando aos olhos de quem os tivesse para enxergar? Mas não, a estratégia de Lenin sempre dera certo com o Ocidente desde que, perguntado pelo recém nomeado Diretor Geral da Tcheka, Féliks Dzerjinski sobre o que deveria ser dito aos ocidentais, Lenin respondera: “Diga sempre o que eles desejam ouvir!”. É o mesmo que a China continua fazendo hoje com o mesmo sucesso! Ao invés de um socialismo “humanizado”, agora é: “uma nação, dois sistemas”, a ratoeira montada pelo gato Deng para atrair os ratos (capitalistas ocidentais). Mas outro fator contribuiu para que os olhos e ouvidos da América estivessem fechados: a também excessiva confiança de Reagan no liberalismo e na iniciativa privada. Em 4 de dezembro de 1981 emitiu a Ordem Executiva 12.333 [*] que revogava disposição anterior do National Security Act de 1947 [**], praticamente abrindo as portas para um certo grau de privatização dos serviços de operações secretas, de inteligência e “atividades especiais”. Proliferaram as empresas privadas de operações de inteligência e, obviamente, cada uma seguindo seus próprios interesses e não os dos EUA, criaram uma balbúrdia enorme nas operações de informação e da “clara percepção da realidade”. Foi muito fácil para os agentes do KGB prosseguirem com suas atividades secretas e a infiltração, principalmente na educação americana. Isto deveria servir para ficar claro que a iniciativa privada não é uma panacéia liberalóide aplicável aos serviços públicos, onde deve imperar a lealdade à Pátria e aos seus princípios, e não o lucro de mercado. Em 1985, expressando claramente a exagerada confiança no “fim do comunismo” e na “vitória do liberalismo”, o Departamento de Estado autoriza a Carnegie Corporation negociar com a Academia Soviética de Ciências – um dos principais braços do KGB – a completa re-estruturação (Perestroika!) do currículo e das normas de educação americanas. Estava cumprido – ao menos no setor educacional – a verdadeira intenção da Perestroika: re-estruturar o Ocidente, não a Rússia. Finalmente, para não estender demais esta parte, em 1990, já no governo Bush Sr – que havia fundado, juntamente com James Baker, Alvin Toffler e Edmund de Rothschild, um instituto para estudar novas formas de educação “global” – a Global Education Associates funda o Projeto Global 2000, no qual 16 ONGs e 4 agências da ONU estudam o estabelecimento do um “Diálogo Transcultural numa Perspectiva Holística; um Renascimento Espiritual; Desarmamento, Segurança Econômica e ambiental”. Todas elas, teses da New Age e do Governo Mundial! * Ver http://www.fas.org/irp/offdocs/eo12333.htm 2.7 CONTRACTING Agencies within the Intelligence Community are authorized to enter into contracts or arrangements for the provision of goods or services with private companies or institutions in the United States and need not reveal the sponsorship of such contracts or arrangements for authorized intelligence purposes. Contracts or arrangements with academic institutions may be undertaken only with the consent of appropriate officials of the institution. ** Ver http://www.state.gov/r/pa/ho/time/cwr/17603.htm Leia também A América dividida - Parte I



 
Heitor De Paola, MSM, em 12 de janeiro de 2005

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