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Resiliência econômica surpreende, mas desemprego preocupa

- DIÁRIO DO COMÉRCIO - 25 JUL, 2021 - Karina Lignelli -

Melhora nos indicadores do varejo, indústria e PIB animam, mas reestruturação do mercado de trabalho é sinal de alerta a empresários e economistas que avaliaram a conjuntura em reunião on-line da ACSP

Mesmo diante dos indicadores da pandemia, que não diminuem, a resiliência da economia brasileira tem sido a surpresa positiva no caso do varejo, da indústria e do PIB, sinalizando uma recuperação em V.


Porém, essa recuperação tem sido desigual em setores como serviços, e uma das preocupações é o emprego, que não deve acompanhar o ritmo da economia devido à destruição de postos de trabalho.


A avaliação, dos empresários e economistas presentes à reunião on-line de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizada na última quinta-feira (24/06), aponta para uma retomada, apesar das incertezas quanto à pandemia, e agora, da iminência de uma crise hídrica.


A pedido da ACSP, os nomes dos participantes dessa reunião não são divulgados.


Um certo impacto do novo auxílio emergencial, o aumento da mobilidade com as flexibilizações e o fato de muitas empresas finalmente terem aprendido a operar no digital, em especial as ligadas a serviços, são alguns fatores que explicam essa resiliência, disse um dos economistas presentes à reunião.


O avanço do digital, que deve puxar os números do varejo em 2021, foi confirmado por um especialista em e-commerce: o setor, um dos poucos destaques de 2020, deve faturar R$ 174 bilhões este ano e crescer 30%, fazendo com que sua participação no varejo restrito ultrapasse a marca inédita de 14%.


A grande penetração do Pix nesse cenário também foi destacada por um representante do setor financeiro, que apontou que, só em maio último, foram realizadas 650 milhões de transações pelo sistema, que movimentaram R$ 40 bilhões - quase o dobro do 2° colocado do setor de meios de pagamento, afirmou.


"Os bons resultados devem continuar no segundo semestre, e pelas projeções que fizemos, se o ano acabasse em setembro, o varejo total cresceria 4%", destacou o economista, lembrando porém que pode existir algum arrefecimento por conta da vacinação lenta e das incertezas causadas pela evolução da pandemia.


O economista lembrou ainda das últimas estimativas de crescimento do PIB: uma recuperação em V, segundo o ministro da Economia Paulo Guedes, que aponta que os 3,5% iniciais pularam para 4,9%.


"Se descontarmos o efeito-base, estamos falando de um crescimento próximo de zero. Mas é um prognóstico positivo frente ao cenário que estamos vivendo, com o tamanho do desemprego e a queda na renda."


'PASSIVO OCULTO'


O desemprego e a reestruturação do mercado de trabalho não só no pós-pandemia, mas desde agora, foi mencionada por outro economista presente à reunião de avaliação da conjuntura da ACSP.


Há um déficit acumulado de mão-de-obra em setores em alta e bastante demandados no momento, como saúde e TI, que devem sofrer dificuldades com a falta de profissionais qualificados.


Mesmo com o avanço da vacinação, há algo ainda mais grave, que é o passivo oculto de setores considerados não-essenciais, onde há empresas endividadas junto a bancos e com impostos atrasados.


Por isso, explicou o economista, os empregos não devem se recuperar no ritmo da economia, pois houve uma 'destruição de vagas'. "Não é só desemprego: a tecnologia substituiu muita mão-de-obra", destacou.

Em sua avaliação, os dados globais do comércio não refletem a realidade. Principalmente dos pequenos negócios, que ficaram muito tempo fechados e agora estão defasados diante do atual cenário.


"Grande parte não conseguiu ir para o on-line, pois está endividada e com dificuldades de retomada. O que preocupa é como reestruturar o mercado de trabalho nessa nova economia, que mudou bastante."


Para um empresário do setor financeiro, o grande volume de pessoas trabalhando em home-office, e o fim do trabalho presencial em muitas empresas também deve diminuir oferta e procura por mão de obra.


"Há pesquisas que dizem que 40% os jovens em formação querem ir embora do país. Então essa falta de mão de obra especializada, principalmente em TI, é um problema a ser cuidado", afirmou.


Ele reforçou também a preocupação com o passivo oculto de pessoas que perderam o emprego em segmentos com muita quebradeira, como academias e eventos, e que não conseguem se recolocar.


"É um buraco negro a ser descoberto, e que eu espero que seja diminuído com crescimento do país."


CONFIANÇA E DESAFIOS NA INDÚSTRIA


O home office e o semi-isolamento continuam a beneficiar setores específicos, como a indústria de eletroeletrônicos, cuja produção registrou alta de 18% no segundo trimestre ante igual período de 2020. Já as exportações cresceram 20%, disse uma representante do setor na reunião on-line da ACSP.


Para fazer uma comparação sem distorções, mês a mês, e não ano a ano, a representante afirmou que a sondagem de conjuntura do setor trouxe expectativas favoráveis entre maio e abril últimos.


Pelo menos 77% indicaram alta nas vendas, e 85% falaram em crescimento nos negócios em 2021, com perspectivas de alta no faturamento de 14% nominal, e de 7% real.


Entre os entraves, 94% reclamaram do preço elevado de matérias primas, alavancado pela crise mundial de semicondutores - o que tem afetado a produção, sem previsão de volta à normalidade para 35% dos entrevistados. Outros 20% acreditam que a situação normalize até o fim do ano, e 8%, só em 2023.


"Ninguém falou em paralisação, então é cedo para falar em 'crise energética'", disse. "Mas é um ponto de atenção, assim como o controle da pandemia, o avanço da vacinação e a crise hídrica."


Na indústria geral, comparar dados com 2019 foi o modo escolhido para medir o avanço da produção no 1° semestre de 2021. Segundo um representante do setor, em abril o crescimento foi de 1,4%.


Esse avanço em meio à crise se explica, em grande parte, por exportações e trocas comerciais, como as vendas manufaturadas para Argentina e Estados Unidos, puxadas por bens de capital.


"É uma alta condizente com os investimentos e a demanda do agro por exemplo. Quando comparamos o primeiro quadrimestre com igual período de 2019, a alta foi de 15%. Então, não é só efeito-quantidade", disse. "Por outro lado, a produção de bens de consumo durável caiu 10%."


O representante destacou algumas disparidades do setor por segmento. Enquanto o de máquinas e equipamentos cresceu 20% ante 2019, automóveis caiu 20% pela falta de componentes para produzir.


A compra de chips e semicondutores, que levavam oito semanas para chegar, agora levam 53, explicou. O atraso, que só deve normalizar em 2023, prejudica principalmente o mercado particular de veículos.


"Por falta de chip, o mercado global deve produzir 700 mil automóveis a menos esse ano", sinalizou.


Mesmo assim, os indicadores de confiança dos empresários da indústria no Brasil vão bem, afirmou, e há expectativa de melhora no 2° semestre por conta dos efeitos do auxílio emergencial e da antecipação do 13° no consumo das famílias.


"A projeção de crescimento para esse ano é de 5% na produção sobre 2020, e 0,3% sobre 2019. É um caminho bom, mas modesto", concluiu.


FOTOS: Thinkstock


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