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O Triunfo da Inveja

HEITOR DE PAOLA - SEM DATA


Há um elo psicológico que une muitas das atitudes e idéias que vimos vendo e ouvindo ultimamente. Como a de atribuir a culpa dos ataques às torres do WTC a uma suposta arrogância americana, parte de um antiamericanismo generalizado; ao culpar os seqüestrados e desculpar os seqüestradores, porque os primeiros possuem casas e carros luxuosos e com isto ‘ostentam’ num mundo de ‘excluídos’; ao transformar as vítimas em culpadas pelos ataques e assaltos sofridos; a idealizar como paradisíaca uma ilhota onde impera a mais terrível miséria e da qual quem pode, foge; a opção preferencial pela pobreza e o ódio às chamadas elites.


And therefore, since I cannot prove a lover,
To entertain these fair well-spoken days,
I am determined to prove a villain,
And hate the idle pleasures of these days.
(Shakespeare, Richard III, Ato 1, Cena 1)

Em especial, me refiro à alegre entrega, quase total, da mídia, a idéias que significarão, se vencedoras, a sua própria destruição – a não ser aqueles que agem de caso pensado sonhando em serem os editores de algum Vöelkischer Beobachter ou Granma tupiniquim – e aos violentos, sórdidos e rancorosos ataques sofridos por tantos quantos se pronunciam contra este descalabro e tentam, pelos parcos meios a seu dispor - em geral a mídia eletrônica de menor alcance - defender ideais de liberdade há muito sufocados pela massificação e idiotização gramsciana.



A situação é tal e o patrulhamento é tão intenso, que as pessoas ficam amedrontadas de demonstrar qualquer indício de riqueza. Em algumas instituições, como uma da qual fiz parte, quem tinha carros melhores costumava deixa-los longe do local das reuniões para não ser censurada. E o pior é que não se trata apenas de riqueza material mas principalmente, intelectual. Como o patrulhamento está geralmente nas mãos dos medíocres, qualquer demonstração de independência e de algum conhecimento acima da média é taxada de arrogância.


Há uma historinha, cuja origem desconheço, que demonstra o que quero dizer:


“Um feirante relata que sempre que voltava da feira satisfeito por ter vendido toda sua mercadoria, dizia a seus vizinhos que o dia tinha sido um fracasso. Assim dormia feliz ... e seus vizinhos também. Quando não vendia nada e voltava acabrunhado, dizia a seus vizinhos que o dia fora um sucesso, vendera tudo e estava cheio de dinheiro. Assim ia dormir com muita raiva .... e seus vizinhos também.”


O elo a que me referi no início, é este sentimento, raramente consciente, tão antigo quanto a existência do homem e cujo potencial destrutivo, tendo sido percebido pelos primeiros sábios da Humanidade, levaram-nos a inclui-lo entre os pecados capitais. No entanto, é preciso distinguir este sentimento daquele uso corriqueiro no qual ele é confundido com outros como ambição, ciúme e sadia competitividade. Diz-se ‘tenho inveja da sua capacidade’, ‘invejo sua vida’, etc. para significar desejo de ter o que o outro tem, o que pode levar a dar os passos necessários para consegui-lo. Trata-se aqui de algo mais nefasto, destrutivo e devastador: se eu não tenho o que tu tens, destruo o que é teu, mesmo que isto resulte em perdas para mim e os meus. Não resisto a contar outra curta historieta:


“Um vizinho, que vivia muito mal, sentia muita inveja do outro, próspero. Um dia achou uma lâmpada mágica, saiu um gênio e lhe disse: satisfarei qualquer desejo teu, mas o que pedires darei em dobro ao teu vizinho. Sem titubear pediu o invejoso: quero que tu me fures um olho”!


É disto que estou tratando aqui: não interessa ganhar nada, mas que o inimigo próspero e detestado, perca e sofra. O prazer está não em adquirir algo para si, mas em infligir dor ao outro. Como um conhecido meu, comunista, ao voltar de uma viagem à tal ilhota caribeña, me disse que lá havia realmente muita pobreza, mas ao menos não havia ricos!


Há um outro ponto que torna a inveja ainda mais nociva: a sua ligação com a ingratidão. Uma das razões do antiamericanismo dominante entre nós é a de que os EUA ajudam o Brasil sempre que acontece alguma crise internacional, como ocorreu há pouco com a injeção de 30 bilhões de dólares. É claro que, ao fazerem isto, estão também defendendo seus legítimos interesses aqui investidos. Os invejosos que só conseguem conviver com o famoso ‘quanto pior melhor’, não suportam que o outro tenha alguma coisa que eles mesmos não têm, ainda mais quando cometem a suprema arrogância de nos ajudarem o que, se em alguns desperta gratidão, nos invejosos desperta um sentimento insuportável de humilhação. Isto piora quando se verifica que em vários aspectos as histórias dos dois países são semelhantes, diferindo nas escolhas feitas pelos dois povos: lá buscaram a liberdade, o liberalismo econômico, basearam a busca da felicidade e da prosperidade no indivíduo como motor da história; aqui, o patrimonialismo, o estatismo, a falsa bondade social que tira dos indivíduos toda a iniciativa


Não é outra a razão para o regozijo com os atentados de um ano atrás. Poucos lamentaram sinceramente; a maioria, inclusive nossos grandes ‘estadistas’, choraram lágrimas de crocodilo porque sabiam que, naquele momento, mostrar satisfação seria descer muito baixo na escala zoológica, tão baixo quanto aquela palestina que passou algumas horas emitindo aquele animalesco grito de satisfação e triunfo. Não demorou muito para nossos ‘estadistas’ começarem a falar que os EUA tinham que olhar para dentro de si mesmos, para sua arrogância, o que a maioria já clamava no primeiro dia.


Por último, há um outro elemento fundamental para que a inveja triunfe: é preciso que o invejado aceite a culpa e se prostre, numa submissão sado-masoquista, aos pés do invejoso triunfante. Para isto sempre tem um Chomsky ou uma Sontag de plantão que encantam o mundo dos intelctualóides que comemoram estes atentados como verdadeira vitória. Ou aqui entre nós, a ‘elite’, gramscianamente trabalhada há anos para a prostração que ora assistimos aos pés das bandeiras vermelhas triunfantes.


A inveja é o leitmotiv de todas as teorias igualitaristas, comunistas ou socialistas, e o combustível psicológico do qual se nutre a luta de classes. Quando ela não predomina existe competição entre os membros de uma sociedade, competição que leva ao progresso e à prosperidade. Quando predomina, leva à inevitável destruição de todos e de tudo, como ocorreu nos retumbantes fracassos comunistas. Destroem-se as empresas, como em Portugal em 1974, e fica-se sem emprego. Exemplo mais flagrante é o da revolução agrária levada a efeito por Lênin nos primórdios do regime soviético, ameaça que hoje paira sobre nosso País. Expropriaram-se as propriedades rurais ‘exploradoras’ dos camponeses, para impor à força os kolkhoses e sovkhoses, e os explorados, agora finalmente libertos da ‘escravidão’ dos grandes senhores, morreram aos milhões. De fome!

Ricardo III, da epígrafe, provou mesmo que era um vilão e acabou junto com o último banho de sangue promovido por sua avidez, clamando por um cavalo que, àquela altura, já valia mais que seu devastado reino.


 
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O TRIUNFO DA INVEJ1
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