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O crescente problema da dívida da China revela fraqueza sistêmica

- THE EPOCH TIMES - Milton Ezrati - TRADUÇÃO CÉSAR TONHEIRO - 6 ABR, 2022 -

A lista de incorporadoras endividadas continua crescendo


Enquanto os comentaristas ficam obcecados com a fraqueza americana e se preocupam com a forma como a Rússia e a China vão dividir o mundo, a China tem seus próprios problemas, principalmente um fardo cada vez maior de dívidas impagáveis.



Primariamente ocorreu com a incorporadora imobiliária Evergrande, mas quando os problemas da dívida dessa empresa chegaram às manchetes na primavera passada, Pequim tinha que saber que a lista de empresas com dívidas problemáticas cresceria. E, de fato, a lista de empresas insolventes do setor aumentou, tornando o sistema financeiro da China cada vez mais frágil.


Em um nível mais profundo, a circunstância revela uma fraqueza fundamental na abordagem planejada de cima para baixo na gestão econômica da China.


A última empresa a anunciar sua incapacidade de pagar sua dívida pendente é a incorporadora Yango Group Co. Em janeiro, a empresa evitou o calote trocando US$ 670 milhões em títulos existentes por novos instrumentos de dívida. Demorou apenas algumas semanas para a administração da empresa anunciar que ainda não conseguia cumprir suas obrigações.


Tal como acontece com um sistema financeiro problemático, esse fracasso levou o maior acionista do Grupo Yango, Fujian Yango Group Co., a deixar de pagar os juros de cerca de US$ 296 milhões em dívidas. Junto com esse problema, o Grupo China Aoyuan também anunciou que não pode cumprir suas obrigações financeiras.


Esses tristes anúncios seguem as notícias anteriores sobre inadimplência na Evergrande, como já mencionado, Kaisa Group Holdings Ltd. e Fantasia Holdings Group Co. Uma contagem informal indica que cerca de 40% dos US$ 6,3 bilhões em títulos antigos trocados por novos já estão em inadimplência.

Uma placa do Kaisa Plaza, uma propriedade imobiliária desenvolvida pela Kaisa Group Holdings, é vista perto de seu prédio em Pequim, China, em 1º de dezembro de 2021. (Tingshu Wang/Reuters)

Por maiores que sejam, esses números reais de inadimplência constituem apenas uma pequena parte do dinheiro em risco. Como foi bem divulgado quando as notícias sobre a Evergrande surgiram, há dúvidas de que a empresa possa quitar cerca de US$ 300 bilhões em passivos.


Todas essas outras empresas somam a esse valor. Há agora uma indicação clara de que todos as incorporadoras podem estar em dificuldade, não é uma questão pequena, já que o segmento imobiliário equivale a cerca de 1/3 da economia da China.


Mais urgente – tanto para os detentores de títulos quanto para aqueles em Pequim encarregados de proteger a saúde das finanças chinesas – é o enorme volume de títulos com vencimento em breve. De acordo com a empresa anglo-americana de consultoria e dados Refinitiv, as incorporadoras imobiliárias chinesas enfrentarão cerca de US$ 117 bilhões em dívidas vencíveis em 2022, quase 1/3 daquela denominada em dólares. Cerca de US$ 27 bilhões vencerão em semanas.


O governo de Pequim e os meios de comunicação – chineses e ocidentais – até agora culparam as incorporadoras chinesas por gastos excessivos que geraram as dívidas. Pode haver pouca dúvida de que muitas dessas empresas tinham administrações extravagantes que tomavam muito dinheiro emprestado e gastavam sem limites.


Histórias sobre como a Evergrande comprou um time esportivo e voou ao redor do mundo em jatos particulares se repetiram em muitos tratamentos da mídia sobre o tema. Mas se a gestão imprudente pode levar parte da culpa, boa parcela dessa culpa também recai sobre os formuladores de políticas em Pequim.


Por décadas, quase desde a grande abertura da China no final da década de 1970, o desenvolvimento imobiliário ocupou um lugar de destaque no modelo de crescimento do país. Pequim usou títulos especiais para encorajar os governos provinciais a trabalhar com incorporadores privados para erguer cidades inteiras do que eram campos de agricultores. Esses rápidos desenvolvimentos formaram a base de relatórios brilhantes da mídia ocidental e continuaram a fazê-lo na segunda década deste século.


Não é de admirar que o desenvolvimento imobiliário tenha crescido para uma parte tão grande do Produto Interno Bruto (PIB) da China. Todo esse crescimento exigia dívidas — assumidas primeiro pelos governos provinciais e locais por meio de títulos especiais autorizados por Pequim e depois pelas incorporadoras que, compreensivelmente, esperavam sem fim a contratação de verbas para esses projetos imobiliários.


Tendo durado décadas, os empréstimos e gastos se tornaram tão excessivos que cerca de 20% do estoque habitacional da China está desocupado hoje. Esta parte não foi vendida nem devolve renda. E como os contratos governamentais pararam de fluir simultaneamente, não é de admirar que as incorporadoras não possam pagar parte da montanha de dívidas que acumularam ao longo dos anos.

Um logotipo da empresa parcialmente removido do China Evergrande Group é visto na fachada de sua sede em Shenzhen, província de Guangdong, China, em 10 de janeiro de 2022. A crise da dívida que envolve o setor imobiliário chinês está ameaçando derrubar o fardo dos desenvolvedores com bilhões em dívida impagável. (David Kirton/Reuters)

Esta situação é perigosa e não apenas porque alguns promotores imobiliários vão sair de cena. O maior problema está com os muitos credores – chineses e estrangeiros – que ficarão presos a títulos podres ou com grandes descontos. Eles terão menos capacidade de apoiar o desenvolvimento futuro ante a esse grande desperdício.


Talvez pior ainda, ninguém saberá quem são esses atores financeiros prejudicados e, portanto, outros hesitarão em emprestar ou investir por medo de que uma ou mais das partes envolvidas estejam enfraquecidas por dívidas incobráveis. Pode haver um benefício em que tais preocupações introduzirão a prudência necessária no sistema, mas também significa que o ritmo das transações financeiras diminuirá e, consequentemente, a taxa de crescimento econômico.


Este problema de dívidas incobráveis revela mais uma fraqueza na economia chinesa. A superconstrução bruta de imóveis decorre da natureza da abordagem centralmente planejada da China para a tomada de decisões econômicas. O excesso de dívida e habitação resulta diretamente da incapacidade dos planejadores de ver que o povo chinês tinha necessidades de vida diferentes do que os planejadores pensavam.


Por que eles deixariam de ver isso?


Ao contrário de uma empresa que lida diretamente com compradores, os planejadores não têm contato com as pessoas para quem planejam. Do ponto de vista dos planejadores, tal desenvolvimento funcionou no passado e deveria continuar a funcionar. Enquanto Pequim persistisse, os governos provinciais e os desenvolvedores tinham todos os motivos para concordar.


Em uma abordagem mais baseada no mercado, todos os envolvidos teriam visto que não havia demanda por tais moradias e recuaria muito mais cedo do que os planejadores chineses. A superconstrução e o excesso de dívidas teriam sido muito menos graves.


As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.


Milton Ezrati é editor colaborador do The National Interest, afiliada do Center for the Study of Human Capital da University at Buffalo (SUNY), e economista-chefe da Vested, uma empresa de comunicação com sede em Nova York. Antes de ingressar na Vested, ele atuou como estrategista-chefe de mercado e economista da Lord, Abbett & Co. Ele também escreve frequentemente para o City Journal e bloga regularmente para a Forbes. Seu último livro é "Thirty Tomorrows: The Next Three Decades of Globalization, Demographics, and How We Will Live".



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