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China Square: A loja chinesa barateira no centro da discórdia do Quênia

- BBC NEWS - Victor Kiprop - TRADUÇÃO CÉSAR TONHEIRO - 6 MAR, 2023 -


Soprando apitos e vuvuzelas, pequenos comerciantes quenianos marcharam às centenas até o gabinete do vice-presidente em Nairóbi para exigir o fim do que chamaram de "invasão da China".

Loja de varejo de propriedade chinesa China Square, na Kenyatta University em Nairóbi.[Jenipher Wachie, Padrão]

A loja China Square, que se tornou um sucesso entre os consumidores por causa de seus produtos baratos, era o foco de sua raiva. Seu rápido sucesso reacendeu temores de longa data sobre a concorrência estrangeira.


A loja, que fica em um shopping nos arredores de Nairóbi, já havia fechado as portas, ainda que temporariamente, na época do protesto da semana passada, quando a polêmica girava em torno dela.



Com apenas cinco semanas de negociação, tornou-se um fenômeno da mídia social. Seus preços baixos em comparação com o que os pequenos comerciantes estavam cobrando e sua localização conveniente o tornavam muito atraente.


Mas alguns comerciantes de pequena escala, que formam uma parte vital da economia do Quênia, começaram a notar uma queda nos negócios.


"Queremos os chineses fora do Quênia. Se os chineses se tornarem fabricantes, distribuidores, varejistas e até vendedores ambulantes, para onde irão os quenianos?" Disse um comerciante não identificado a jornalistas no protesto.


Peter Sitati, que importa e vende equipamentos de beleza em Nairóbi, foi um dos participantes da manifestação.


Ele diz que um banquinho de pedicure de plástico que custa cerca de US$ 43 (£ 35) em sua loja é vendido no varejo na China Square por cerca de US$ 21, efetivamente o reduz em mais de 50%.


"Muitas empresas quenianas vão fechar suas lojas e nossa economia entrará em colapso", argumentou Sitati.

Peter Sitati diz que não consegue vender seus produtos aos preços mais baixos da China Square

Pressionado para explicar por que ele estava cobrando muito mais, ele disse que está repassando os impostos e taxas que lhe foram cobrados e concluiu que pode estar comprando as mercadorias da China a um preço mais alto do que na China Square.


Apesar de questionada pela BBC, a China Square não explicou como estabelece seus preços, mas pode estar se beneficiando por poder comprar em maiores quantidades. [Cá no Brasil está ingressando produtos made in China em torno de 5% do valor praticado no varejo, o que é crime de sonegação fiscal e de evasão de divisas. Em 2021 a ilegalidade chegou a R$ 300 bilhões e nesse metiê costuma ter o cabeça de dragão nas tramoias].


Também pode ter uma relação mais direta com os fabricantes. Muitos dos pequenos comerciantes quenianos têm que passar por intermediários e podem ter custos adicionais.


O fundador da China Square, Lei Cheng, insistiu que não fez nada de errado.

"Meu negócio é legal e centrado na competição saudável. Cooperamos com todas as diretrizes do governo para abrir um negócio no Quênia e estamos aqui para quebrar o monopólio", disse Lei.


Ele acrescentou que seu negócio faturou mais de US$ 157.000 nas duas primeiras semanas.


"As pessoas que estão lutando contra nós se sentem ameaçadas porque os quenianos agora sabem que existimos e não os estamos explorando em preços."


'Produtos de qualidade, preços acessíveis'


Alguns compradores quenianos estão do lado do varejista.


"A China Square deveria ter permissão para operar. Eles estão vendendo produtos de qualidade a preços acessíveis", disse Sharon Wanjiku.


"O custo de vida está muito alto no momento e esses preços são exatamente o que precisamos."


A rápida popularidade da loja seguida da polêmica chamou a atenção do governo, com um ministro dizendo que ela deveria deixar de operar como varejista.


"Damos as boas-vindas aos investidores chineses no Quênia, mas como fabricantes, não como comerciantes", disse o ministro do Comércio, Moses Kuria, no Twitter na sexta-feira antes do fechamento da China Square.


Ainda não está claro por que a loja fechou suas portas para os clientes. Suspeitava-se que tivesse sofrido alguma pressão por parte das autoridades.


Um comunicado da China Square disse que estava fechando para "reavaliar e replanejar a estratégia da empresa" e que estava "considerando a possibilidade de cooperar com comerciantes locais".


Mas no final da semana passada, a Autoridade Antifalsificação do Quênia disse que investigou uma denúncia de que a China Square estava vendendo produtos falsificados, mas não encontrou nenhuma evidência de que fosse esse o caso.


Na segunda-feira, a Câmara de Comércio Chinesa do Quênia (sigla em inglês KCCC) saudou a reabertura da China Square após discussões com o governo, mas não entrou em detalhes sobre o assunto das negociações.


"A Câmara espera um tratamento igual e justo de todos os negócios em todos os setores para garantir um ambiente de negócios propício para todos", disse o comunicado da KCCC, mas não disse se algum novo acordo foi feito.

O protesto contra a Praça da China atraiu uma grande multidão

Alguns temem que a briga em torno da loja tenha passado uma mensagem errada sobre a economia e o interesse em investimentos.


Korir SingOei, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, tem procurado tranquilizar potenciais investidores, afirmando que o Quénia recebe dinheiro de fora e não discrimina a sua proveniência.


Wu Peng, o principal diplomata para a África no Ministério das Relações Exteriores da China, ficou satisfeito com o esclarecimento e disse que "um ambiente de investimento não discriminatório é vital para o desenvolvimento saudável da cooperação prática bilateral".


No passado, o Quênia lutou para encontrar um meio-termo entre atrair investimentos estrangeiros e promover o livre comércio, protegendo os comerciantes locais do que alguns consideram uma concorrência desleal.


"Impedir estrangeiros de fazer negócios legítimos no Quênia é retrógrado. Precisamos ver como capacitar os quenianos para produzir produtos competitivos", diz o economista queniano Gerrishon Ikiara.


Deportações


A Lei de Promoção de Investimentos do Quênia, que estabelece condições para investidores estrangeiros, exige que um investimento seja benéfico para o país por meio de coisas como novos empregos, transferência de novas habilidades ou tecnologia ou uso de matérias-primas ou serviços locais.


Não há dados disponíveis para mostrar quantos comerciantes ou pessoas chinesas estão no Quênia, mas tem havido um crescente sentimento anti-chinês nos últimos anos. Isso se deve em parte a alegações de que os chineses no Quênia são racistas, bem como ao medo de comerciantes chineses tirarem negócios e empregos dos quenianos.


Em 2019, as autoridades quenianas deportaram sete cidadãos chineses que operavam em dois mercados de Nairóbi, acusando-os de não terem autorização de trabalho e dizendo que não podiam operar num setor que estava reservado aos locais.


Em 2020, quatro chineses foram deportados após serem acusados de espancar um queniano que trabalhava em um restaurante chinês.


O presidente William Ruto até agora evitou o assunto, mas antes de sua eleição no ano passado ele prometeu deportar cidadãos chineses envolvidos em negócios que podem ser feitos por quenianos.


"Temos acordos com diferentes países sobre que nível de negócios ou trabalho deve ser feito por locais e qual é permitido, onde é preciso ter [uma] autorização de trabalho para estrangeiros. E esse nível não é vender em quiosques, varejo ou assar milho", disse Ruto em junho passado.


A China Square claramente não está funcionando em um quiosque, mas sua reabertura continua a representar um desafio para os pequenos comerciantes, cujas reclamações não desapareceram.



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