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VW XII - Conturbadas relações com o Governo

Updated: Apr 25, 2019

21/03/2019


- Jacy de Souza Mendonça -



Três fatos exemplificativos das dificuldades enfrentadas pela indústria automobilística em seu relacionamento com o governo, em razão da falta de liberdade econômica:

1 - Estávamos sob congelamento oficial de preços, regra que nem sempre era aplicável a nossos fornecedores, o que gerava situações inadministráveis. Fui encarregado de levar essa queixa ao Ministro da Fazenda. Sua reação inicial foi que se tratava de política oficial indispensável ao País, tendo em vista a crise econômica que enfrentava, e a indústria automobilística deveria colaborar com ela. Contestei não ser possível a nenhuma empresa colocar no mercado produto cujo custo de fabricação fosse superior ao preço praticável. Ele não titubeou: "lancem produto novo, que não estará sujeito ao congelamento". Expliquei-lhe que produto novo na indústria automobilística demorava cinco anos para sair da prancheta e chegar ao consumidor, mas ele não se deu por achado: "basta uma cor diferente ou a retirada de algum acessório..." Assim foi feito e os compradores nunca entenderam porque o fabricante vendia aquele veículo com menos detalhes a preço maior do que o modelo anterior. Nossa resposta só podia ser o silêncio, pois, realmente, só a burocracia poderia explicar o fenômeno.

2 - Preocupados em evitar queixa futura do Ministro da Fazenda de ter sido o último a saber, coube-me a tarefa de informá-lo de que o fusca iria sair de linha nos próximos dias. A reação foi brusca e imediata: não permitia fazermos aquilo. Tive, então, que esclarecer que minha missão não consistia em discutir o assunto, mas apenas em informá-lo sobre decisão já tomada. Pareceu acalmar-se, mas indagou de quanto seria o aumento de preço necessário para manter o produto. Respondi que não tinha uma informação precisa sobre o assunto, mas acreditava que nem 45% seriam suficientes. "Não dou!" bradou ele, ao que fui forçado a retrucar que não estava pedindo... Minha saída do gabinete não foi das mais agradáveis, mas, na semana seguinte, a linha do fusca estava desativada, conforme tinha sido programado.

3 - No ápice da crise, a ANFAVEA negociou com o Ministério da Fazenda acordo segundo o qual o setor faria grande investimento, compensado pela liberdade de preços. Formalizado o documento, a esperança voltou a raiar. Eis senão que o Ministro foi substituído e seu sucessor anunciou à imprensa, como terapia contra a hiperinflação, novo congelamento. Acompanhei Sauer na visita a ele, para lembrá-lo do compromisso bilateral que fora assinado. Espantou-nos sua reação: "eu não assinei esse papel, por isso não estou obrigado a cumpri-lo". O sangue subiu-me à cabeça e não me contive: o acordo efetivamente não foi celebrado pelo senhor, mas pelo governo brasileiro do qual o senhor é servidor. Sauer brecou meu ímpeto. Saímos do gabinete e a empresa foi forçada a ingressar no STF com um mandado de segurança, durante cuja tramitação o Ministro resolveu-se a dar cumprimento ao papel que não assinara...

Salve a liberdade econômica!






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