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UM VIAJANTE ILUSTRE III

Jacy de Souza Mendonça

10/07/2020


Do programa de visita a Manaus constava jantarmos no Restaurante Panorama. Expliquei ao grupo que não deveríamos seguir o protocolo germânico, segundo o qual eventos à noite são sempre de roupa escura, paletó e gravata. Um deles, seguindo um item do protocolo que eu não vetara, desceu a escadaria trazendo um conjunto de pequenos embrulhos – souvenirs para presentear as pessoas com as quais estávamos nos relacionando, principalmente os motoristas. Voltamos para nossos famosos Passat e recomeçou o drama do motor de arranque. Partimos. Chegados ao restaurante, ao abrir a porta do carro, ela colidiu com um monte de lixo, do qual explodiu um enxame de baratas. Coisas absolutamente incompreensíveis para alemães.


O restaurante se localizava sobre a laje de uma garagem. Precisávamos subir por uma escada lateral de concreto. O primeiro a iniciar a escalada galgou o primeiro degrau, que tinha uns dez centímetros de altura; ele deve ter imaginado que o segundo seria igual, mas não era, tinha uns quinze centímetros, diferença que provocou sua queda com todos os pacotinhos; reequilibrou-se, retomou a escalada, mas infelizmente o terceiro degrau tinha nove centímetros e ele foi novamente ao chão.


Enquanto isso, apressei-me a chegar ao restaurante, lá em cima. Encontrei, de fato, um belo panorama: sob o luar de um lindo céu estrelado, tendo ao fundo a gigantesca paisagem de um rio e uma floresta espetaculares, as pirogas cruzando o rio, havia um conjunto de pequenas mesas cobertas por uma toalha de cor indefinível... voltei e impedi o acesso do grupo dizendo:


- Está lotado!


Um garçom correu atrás de mim gritando que tinha lugares, mas o grupo não entendia português, graças a Deus.


De volta aos carros, lembrei-me de que, em minha última visita àquela cidade, jantara, ao som de um belo violão, à beira da belíssima piscina do hotel, saboreando magníficas costeletas de tambaqui (talvez o melhor peixe do Amazonas), acompanhadas de cerveja. Não titubeei. Levei o grupo de volta para lá. Sentei todos em uma mesa bem localizada e fui encomendar a maior e melhor travessa de tambaqui que já tivessem preparado. O cozinheiro acabou, porém, com minha festa, interrompendo-me:


- Hoje só temos frango!


Na semana seguinte recebi uma carta de meu visitante, vinda da Alemanha. Com uma extraordinária cortesia, agradecia a acolhida e dizia que fora a mais linda e mais pitoresca viagem de sua vida...

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