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Reparando uma Injustiça Pessoal - BAIXE O ARQUIVO PDF AQUI -

- OLAVO DE CARVALHO - CLUBE MILITAR DO RIO DE HANEIRO - 31 DE MARÇO DE 1999 -


Eu não posso mudar o curso da história passada, mas posso dizer algumas coisas boas àquelas pessoas que participaram desses acontecimentos, que tiveram uma participação em 1964 e que ajudaram a construir o Brasil. Não adianta chegar hipocritamente para vocês e pedir desculpas. Não se trata disso. Mas há uma coisa que posso fazer. Posso lhes dizer: Não se envergonhem da sua obra. Levantem as suas cabeças, tenham orgulho e não permitam que nenhum hipócrita comunista venha se fazer de seu fiscal. Nunca, nunca cedam a sua dignidade ao falso moralismo da hora, nunca sacrifiquem aquilo que é elevado e digno em vocês àquilo que é baixo e vil num outro qualquer. Era isso que eu queria pedir a todos vocês. Muito obrigado.


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REPARANDO UMA INJUSTIÇA PESSOAL. OLAVO DE CARVALHO
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Agradeço comovido ao General Hélio Ibiapina e a todos os queridos amigos do Clube Militar este convite que muito me alegra, e peço permissão para começar esta conferência com uns detalhes autobiográficos, não por vaidade, absolutamente, mas apenas porque alguns fatos da minha vida se encaixam muito bem no assunto que vamos abordar aqui.



Existem pessoas que têm o dom de se aproximar de quem está no poder. Eu pareço que fui brindado com o dom contrário. No tempo dos governos militares, logo no começo, entre 1966 e 68, eu era um militante do Partido Comunista e odiava os militares; eu os chamava de "gorilas", como aliás todo mundo naquele meio. Tive muitos amigos e parentes que foram prejudicados pelo governo militar e durante todo aquele período eu me senti marginalizado, como muitos membros da minha geração, em razão de minha hostilidade ao regime. Hoje em dia, quando os esquerdistas estão no poder, dominam tudo e estão passando muito bem de saúde, já não estou mais ao lado deles e estou aqui falando para vocês.


Por isto é que digo que fui brindado com este dom de fazer sempre as amizades mais inconvenientes no momento. Todos conhecemos muitas pessoas que fizeram carreira no regime militar e tão logo a situação mudou trataram de trocar de amizades, porque era melhor para a sua saúde...


Ora, toda a experiência que vivi, primeiro ao lado dos esquerdistas e depois numa longa solidão para a qual me retirei após ter me desiludido com a perspectiva socialista, para poder meditar e refazer de certo modo o meu mundo de ideias, toda esta experiência me ensinou, em primeiro lugar, a inconveniência de falar quando não se tem um mínimo de certeza razoável.


Devo lembrar aos senhores que a minha atuação pública começa apenas em 1996, com o livro O Imbecil Coletivo. Até aí a minha vida tinha sido muito modesta, muito discreta, dando minhas aulinhas e escrevendo uns livros de filosofia que ninguém lia. Só publiquei O Imbecil Coletivo porque observei a ascensão de um tipo de mentalidade destrutiva, não só do ponto de vista político mas sobretudo no que diz respeito à destruição da inteligência humana.


Tendo observado fatos cada vez mais alarmantes, na área cultural, e vendo que ninguém dava sinal de tê-los percebido, eu disse a mim mesmo: "Parece que sobrou para mim".


Então, com competência ou sem ela, foi necessário fazer alguma coisa. Esse livro, na época, desencadeou uma onda que eu não diria de raiva, foi mais onda de pânico, entre pessoas do meio intelectual que jamais tinham sido criticadas no mais mínimo que fosse e que estavam acostumadas com o dogma da intangibilidade sacrossanta de suas pessoas. Um deles, lembro-me claramente, foi o prof. Leandro Konder, um comunista histórico, um homem que nunca foi criticado par nada, um homem sem defeito, um homem sem mácula e que, onde quer que vocês perguntem a respeito dele, lhes dirão: "O Leandro é uma moça", "O Leandro é um cavalheiro, é um gentleman."


Dele não se fala mal. E esse homem, por conta do seu prestigio de gentleman, vinha não só mentindo compulsivamente em assuntos culturais, mas pregando ideias bastante destrutivas, por trinta anos protegido pelo manto de sua pretensa delicadeza. Então, quando ousei mexer nessa figura, muita gente ficou escandalizada, parecia que ia ter um enfarte, e eu notei que para essas pessoas doía mais nos seus corações ver alguém destratar intelectualmente um Leandro Konder, um Oscar Niemeyer ou alguém assim, do que ouvir blasfêmias contra Jesus Cristo.


Eu cheguei a ver pessoas, em conferências minhas, passarem mal fisicamente ao ver-me desmascarar certas figuras da sua adoração. Tudo isso eu vi com estes dois olhos, não estou inventando nada. Eu vi no rosto dessas pessoas a emoção que a Bíblia chama "escândalo". Que é o escândalo, no sentido bíblico do termo? O escândalo é um fato que desmente a nossa fé, que viola a integridade da nossa alma e abala a nossa confiança na ordem do universo.


Então, quando eu dizia certas coisas para certas plateias, as pessoas sentiam a emoção do escândalo, uma espécie de terror espiritual ante a morte do seu Deus. Não posso dizer que os artigos que publiquei, reunidos nesse livro, tenham suscitado propriamente ódio ou rancor. Eu tenho certeza de que suscitaram medo.


As pessoas sempre me perguntam se nunca recebi pressões ou se fui intimidado ou ameaçado. Sim, isso aconteceu algumas vezes, mas ninguém fica trinta anos quieto num canto, pensando, para depois recuar ao surgir a primeira reação adversa. Recuamos só quando, na juventude, no arrebatamento do entusiasmo, nos levantamos de improviso contra algo que no calor da hora nos parece errado e o adversário reage, aí sim nos intimidamos e corremos e pomos o rabo entre as pernas. Praticamente toda a minha geração fez isso.


Fez isso baseada sobretudo no mito lisonjeiro de que a juventude é idealista e de que a juventude tem amor à justiça. Ora, o que vocês achariam de um juiz de quinze anos de idade que condenasse o réu sem sequer tê-lo ouvido? Não há amor à justiça quando não há amor à verdade, e não há amor à verdade quando não há sequer a paciência de esperar para conhecê-la. Isto quer dizer que esse famoso amor à justiça que se atribui à juventude é apenas vaidade, pretensão e arrogância.


Evidentemente esses sentimentos baixos, como todas as paixões infames de que o ser humano é capaz, sempre podem ser muito bem trabalhados e aproveitados por pessoas sedutoras. A palavra "sedutor" vem do latim sub ducere. Ducere é "conduzir", e sub, "por baixo". Quer dizer: o sedutor é alguém que nos conduz pela nossa parte inferior, pela nossa parte fraca e pelas nossas tendências abissais ocultas.


Ora, não há tendência mais baixa do que a vaidade e a arrogância rancorosa. Quem quer que diga a um garoto de quinze anos que ele é superior à geração de seus pais porque tem o espirito da justiça é apenas um sedutor barato e mentiroso.


Mas acho que não houve na história do século XX uma única geração que não tenha ouvido esse canto de sereia. Eu também ouvi, eu também fui seduzido, eu também achei maravilhoso me imaginar o grande justiceiro: aos dezessete, dezoito anos eu tinha a certeza de que sabia quais eram os males do

mundo, de que eu sabia quais eram os culpados pelos males do mundo e qual a punição que deveria lhes ser aplicada.


Também tinha a certeza de que o principal mal do mundo era que não me dessem os instrumentos de punir todos os culpados. Ou seja: para resolver tudo bastava uma só coisa — dar o poder absoluto ao Olavo de Carvalho e a seus cupinchas. Então tudo estaria resolvido, isto eu achava aos dezessete anos e toda a minha geração pensava como eu. Vocês chamam isso de espirito de justiça? Eu chamo de espirito de estupidez, espirito de arrogância, espírito da pretensão boba.


A diferença entre eu e os meus companheiros de geração é a seguinte: eu percebi isso e eles não.


Quando falo em companheiros de geração, às vezes se trata de pessoas que me eram bem mais próximas que meros companheiros de geração. Durante um certo tempo dividi um apartamento com o Rui Falcão, que foi presidente do PT, e ambos éramos amigões do José Dirceu, que não saía dali; então, esses eram os meus companheiros. Eu percebi que eu era um palhaço arrogante e eles nada perceberam de si mesmos até hoje.


Não sei se cheguei a ser alguma coisa que preste, mas aquela porcaria que eu era já não sou mais.


Não consigo mais me enganar com tanta facilidade, não consigo dizer a mim mesmo, como naquela época: "Olavo, você sabe quem são os culpados dos males do mundo", "Olavo, você tem o direito de reivindicar a posse do chicote universal para açoitar o lombo de todos os malvados", e assim par diante.


Ora, estou com 52 anos, alguma coisa devo ter aprendido neste período, mas certamente, se aprendi, foi porque me abstive de falar durante vinte anos ou mais. Ontem mesmo, na conferência que fiz no Instituto de Geografia e História Militar, estava contando que fiz como Buda, que, sendo tomado por uma dúvida, sentou ao pé de uma árvore e disse: Não me levanto daqui até descobrir a resposta.


Eu também tive um amigo, já falecido, que foi um grande psicólogo clinico, Juan Alfredo César Müller, o qual, na sua juventude, tendo terríveis dúvidas vocacionais, entrou numa igreja e disse para si mesmo: "Vou me ajoelhar e vou rezar até obter a resposta ou vou morrer ajoelhado aqui."


Assim, ele obteve a evidência, uma espécie de sinal divino de que ele devia seguir a carreira de psicólogo, e raramente uma vocação foi tão acertada como a desse grande gênio da psicologia clinica.


Quando a gente quer a verdade a gente faz assim, quando a gente não quer a gente inventa uma qualquer, a que nos pareça a mais lisonjeira, a que agrade ao nosso grupo de referência, e condenamos o resto do mundo porque ele não concorda conosco.


Quem estudar brevemente a história do século XX verá que todos os movimentos destrutivos, todos os movimentos responsáveis por massacre de milhões de pessoas, todos eles, foram sempre encabeçados por jovens, e que a militância a serviço desses movimentos foi sempre de jovens. Isso será porque o jovem tem espirito de justiça?


Somem o número dos mortos; cem milhões do comunismo, mais vinte milhões do fascismo e assim par diante, sem contar a maravilhosa militância de 1968 — Woodstock — em favor da disseminação das drogas, que transformou o mundo num feudo dos traficantes. Quantas pessoas as drogas mataram e a quem incumbe a culpa disso? A culpa inteira cabe a estes jovens,


cujos pais covardemente continuam a lisonjeá-los, dizendo: "Vocês têm o espirito da justiça", "Vocês têm o espirito da verdade", "Vocês são melhores que nós".


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