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Quebrando a Aliança Atlântica?

05/12/2019


- THE EPOCH TIMES -

Tradução César Tonheiro




A Alemanha virá em socorro da China?


A economia dominante na Europa escolherá um futuro com a China e não um com os EUA?


5 de dezembro de 2019 por James Gorrie


Com o Presidente Trump em Londres a discutir o futuro da OTAN, o futuro da própria zona euro não está claro. A Alemanha encontra-se a subir para uma posição de grande poder que desconhece há quase 65 anos. Esta realidade emergente deve-se, em parte, a um divórcio muito confuso do Brexit, bem como à deterioração das relações com os Estados Unidos.

Essa tendência ainda segue ladeira abaixo.


As coisas ficaram arriscadas entre os Estados Unidos e a Alemanha em 2013, quando o governo Obama foi flagrado ouvindo os telefonemas da chanceler alemã Angela Merkel. Mas as exigências do Presidente Trump de que a Alemanha contribua mais para o orçamento de defesa da OTAN e deixe de comprar gás natural da Rússia ajudaram certamente a solidificar os sentimentos negativos entre os governos das duas nações. A crescente relação da Alemanha com a China pode muito bem ajudar a transformar essa tendência em uma difícil realidade.


Isso é indesejável, mas pode ser um resultado difícil de evitar.


China busca mercados


No meio da guerra comercial em curso com os Estados Unidos, a China está buscando mercados e a Alemanha gostaria de pelo menos obter certo alívio. Mas o aprofundamento dos laços entre os dois países começou antes de Trump assumir o cargo em 2016. Desde esse ano até 2018, a China tem sido o maior parceiro comercial da Alemanha, importando US $ 219,46 bilhões em produtos alemães no ano passado.


Os Estados Unidos foram quarto, atrás da vice-campeã Holanda e da terceira colocada França.


É um desenvolvimento interessante. Por décadas, a Alemanha realmente não tinha uma política externa ou dilema comercial na medida em que tem agora. Durante o período pós-Guerra Mundial, a Alemanha viveu nas sombras da antiga União Soviética (URSS) e dos Estados Unidos. Nos últimos 30 anos, desde a queda do Muro de Berlim (e da URSS em 1991), a postura econômica da Alemanha na Europa aumentou, especialmente com a reunificação dos antigos países da Alemanha Oriental e Ocidental em um só. Coincidentemente, 1989 também foi o ano em que a China derrubou violentamente uma rebelião democrática na Praça da Paz Celestial. A partir daí, a liberdade da Alemanha cresceu enquanto a China encolheu.


Alemanha emergindo da sombra dos EUA


E, no entanto, hoje, ambas as nações encontram-se precisando da outra economicamente e cada vez mais em desacordo com os Estados Unidos, tanto política como economicamente. Mas o status de segundo nível da Alemanha — se isso — na política global está mudando. Esse papel de subordinada já não se encaixa na protagonista da União Europeia (UE).


A China está feliz em obrigar a Alemanha, e já está vendo algum sucesso em ampliar as fraturas dentro da relação EUA-Alemanha. Hoje, o escândalo de software de espionagem da Huawei está provando ser mais um desafio para ambas as nações do que teria sido no passado. Os Estados Unidos pediram, se não insistido, que a Alemanha, juntamente com outros aliados europeus, proíba a implantação do notório equipamento de rede Huawei 5G que tem sido provado como uma ferramenta de espionagem e coleta de dados para o Partido Comunista Chinês (PCCh).


Alemanha na corda bamba


Os oficiais de comércio alemães, entretanto, são cuidadosos de proceder de tal modo. Eles temem ofender seu maior parceiro comercial, a China, mais do que temem ofender seu principal parceiro de segurança, os Estados Unidos. As autoridades de segurança nacional da Alemanha, por outro lado, querem se livrar do equipamento da Huawei para proteger os segredos militares. Isso incluiria presumivelmente segredos militares da OTAN liderados pelos EUA, dos quais a Alemanha continua a fazer parte, pelo menos por enquanto.


Mas nem tudo é bolo da Floresta Negra e bolinhos de arroz doce entre a Alemanha e a China. As fábricas automotivas chinesas, por exemplo, estão agora competindo com carros alemães para o mercado de carros chinês em rápido encolhimento. Gostaria de adivinhar quais carros serão comprados na China no clima de guerra comercial de hoje?

Além disso, de acordo com estimativas recentes, a maré de produtos de fabricação alemã inundando a China já está recuando.  Muitas companhias alemãs foram deixadas pela maior parte fora do muito-prometido, mas raro acesso ao mercado chinês. Como outras empresas ocidentais, a Alemanha está começando a sentir a ressaca do comércio com a China.


O comércio China-Alemanha atingiu o pico?


Mas isso não é culpa do Trump. Os números econômicos da Alemanha já estavam diminuindo de 2017 a 2018, caindo de 13,3% em 2017 para 8% em 2018 para 2,7% até outubro de 2019. E as importações da China da Alemanha caíram 3,6% em relação ao ano anterior em agosto de 2019.


Ainda assim, mesmo que a guerra comercial com os Estados Unidos seja resolvida mais cedo ou mais tarde, a zona euro — especialmente a Alemanha — é provável que seja a chave para os planos econômicos da China daqui para frente. Na verdade, a zona euro é, sem dúvida, o verdadeiro alvo da iniciativa One Belt, One Road da China (OBOR, também conhecida como Belt and Road) do ponto de vista do mercado e do investimento.


Isso é amplamente demonstrado pelos esforços da China para comprar a montadora alemã BMW, que acabou tornando a BMW a parceira majoritária da empresa chinesa Brilliance Automotive. Essa é uma reversão política significativa para a China e parece uma estratégia para aprofundar o relacionamento econômico China-Zona Euro.


Quebrando a Aliança  Atlântica?


Do ponto de vista estratégico, aprofundar a sua penetração no mercado na Europa daria à China a influência que procura desesperadamente desfazer de uma vez por todas a já enfraquecida aliança atlântica. Isto isolaria a América da maior zona comercial econômica do mundo e do seu maior aliado mundial através da OTAN.


Um ponto chave a compreender é que ao contrário das nações ocidentais, da perspectiva da China, o trade-off (conflito de escolha) militar-econômico é menos um problema. A visão de longo prazo é a penetração do mercado, a transferência de tecnologia e, em seguida, a fabricação e dominação do mercado, seguido pela crescente influência política. Os lucros incorporados não são prioridade máxima de China como são para corporações ocidentais [este artigo AQUI dá uma ideia do tamanho do rombo chinês].  


No atual ambiente comercial, no entanto, mesmo que o cálculo parece menos plausível do que até um ano atrás. A economia da China continua se contraindo, assim como a da Alemanha. Isso significa que a expansão das relações comerciais pode estar na lista de desejos de ambas as nações, mas provavelmente será um processo muito mais longo e talvez em menor grau do que elas gostariam. Isso é simplesmente devido à necessidade para Europa — especificamente Alemanha — para enfrentar seus próprios desafios econômicos e de emprego, assim como a China também.



James Gorrie é escritor e palestrante do sul da Califórnia. Ele é o autor de "The China Crisis".

As opiniões expressas neste artigo são de opinião do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.


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