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Os Estados Unidos estão ignorando a América Latina, mas a China não

- NATIONAL INTEREST - Joe Bauer - TRADUÇÃO CÉSAR TONHEIRO - 10 FEV, 2022 -

Se os Estados Unidos querem levar a sério a competição com a China e se demonstrar como líder global, não podem continuar ignorando seu próprio quintal.


O presidente argentino Alberto Fernández não estava em Pequim apenas para assistir aos Jogos de Inverno, ou apenas para colocar uma coroa de flores no memorial do presidente Mao Zedong na Praça da Paz Celestial. Em vez disso, Fernández estava ao lado do líder chinês Xi Jinping para anunciar que seu país se juntaria oficialmente à Iniciativa do Cinturão e Rota da China (Belt & Road - BRI).


A Argentina seria apenas o último país latino-americano a se juntar ao projeto de estimação de Xi, um enorme esquema de infraestrutura e desenvolvimento, juntando-se às fileiras de vizinhos regionais como Chile, Bolívia e Peru.



As ambições não terminaram aí. Pequim está procurando expandir ainda mais seus laços econômicos com a região, recentemente fazendo um esforço para promulgar um acordo de livre comércio com o governo do Uruguai, bem como explorando a possibilidade de chegar a um novo acordo de comércio e dívida com o Equador até o final do ano.

Esses desenvolvimentos são apenas os mais recentes de um esforço maciço de décadas para expandir os laços econômicos do país em toda a região, com o comércio China-América Latina crescendo de apenas US$ 18 bilhões em 2002 para quase US$ 316 bilhões em 2019.


As aspirações de Pequim na região não são apenas econômicas. Apenas em dezembro passado, foi anunciado que a Nicarágua estabeleceria formalmente laços diplomáticos com a República Popular da China e cortaria suas relações com Taiwan. A medida elevou o número de países que reconhecem oficialmente a ilha democrática para apenas quatorze e provocou temores de que a vizinha Honduras possa ser a próxima.


Embora a América Latina normalmente tenha desempenhado um papel secundário na política externa dos EUA, eram altas as expectativas de que o governo Biden pudesse dar um novo fôlego às relações intraamericanas. Como vice-presidente, Biden serviu como emissário-chefe do governo Obama para a região, visitando um total de dezesseis vezes. Em contraste, o presidente Biden ainda não visitou a região, enquanto a vice-presidente Kamala Harris visitou apenas duas vezes. A viagem inicial de Harris à Guatemala e ao México foi marcada por controvérsias e centrada principalmente em questões de migração e fronteira, enquanto sua viagem mais recente para participar da posse do presidente de Honduras, Xiomara Castro, também se concentrou fortemente no desenvolvimento regional como meio de reduzir o fluxo da imigração.


Embora o anúncio de que os Estados Unidos sediariam a próxima Cúpula das Américas seja um sinal positivo, não está claro se haverá um engajamento mais concreto. Os Estados Unidos ainda carecem de uma presença embaixadora em grande parte da região. Embora as indicações pendentes para servir em países-chave, como Brasil e Chile, estejam em andamento, muitos cargos permanecem vagos sem um claro cronograma à vista.


A China tem sido uma área de consenso bipartidário. No entanto, muito desse foco permaneceu no confronto bilateral ou nos esforços multilaterais em todo o Indo-Pacífico. Para seu crédito, o governo Biden unificou com mais sucesso os Estados Unidos e a Europa na ação contra a atividade chinesa, mas o foco na questão mais próxima permanece escasso.


Em seu relatório anual de 2021, a Comissão EUA-China destacou a atividade em expansão da China. O governo chinês usou reuniões de partido para partido para fornecer treinamento e construir relacionamentos com políticos em toda a América Latina, adaptando seus esforços com países individuais para convencê-los de que a parceria com a China é o meio mais eficaz de garantir crescimento e desenvolvimento contínuos.


Embora a demanda da China por recursos naturais e agricultura tenha gerado um boom econômico, muitas das instituições da região estão mal equipadas para responder plenamente às crescentes consequências ambientais e sociais. Quarenta e cinco Institutos Confúcio estão ajudando a China a desenvolver seu poder brando regional enquanto Pequim continua a vender tecnologia financeira e de vigilância para regimes autoritários regionais, permitindo-lhes monitorar e suprimir ainda mais suas populações.


Nos últimos anos, muitos formuladores de políticas parecem preocupados com a migração ou com o confronto com regimes autoritários na Venezuela e em Cuba. Embora esses sejam certamente problemas a serem abordados, eles ignoram os muitos outros desafios que assolam a região, incluindo a pandemia de Covid-19.


Embora as taxas de vacinação estejam aumentando, a América Latina está entre as mais atingidas pela Covid-19, e as economias estão lutando como resultado. Embora grande parte da América Latina tenha experimentado uma recuperação positiva em forma de V em 2021, as estimativas para o crescimento econômico em 2022 são menos otimistas, pairando pouco acima de 2%, em grande parte devido ao forte aumento da inflação.


Esses desenvolvimentos culminaram em uma onda de sentimentos anti-incumbência (oposição ou desaprovação dos atuais titulares de cargos políticos), com partidos de oposição de centro-esquerda conquistando vitórias em toda a região, inclusive no Chile, Honduras e Peru. Da mesma forma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está liderando as pesquisas contra o atual presidente Jair Bolsonaro antes da eleição presidencial do Brasil no final deste ano.


Especialistas argumentam com razão que os Estados Unidos não precisam necessariamente temer a nova esquerda da América Latina, com grande parte de sua retórica voltada para questões como clima, direitos de gênero e serviços sociais, em vez do autoritarismo ideológico ecoado em países como Venezuela e Nicarágua. Com isso dito, os Estados Unidos não podem ficar de lado e assistir.


Trazer as ambições de Pequim para a realidade não sairá barato, e a China há muito se mostra disposta a intervir e preencher o vazio deixado por Washington. As intenções dos EUA na região são frequentemente vistas com apreensão, mas a falta de ação fará pouco para mudar corações e mentes, principalmente porque a China continua sua busca por expandir sua influência.


Os passos para enfrentar esse desafio estão sendo dados. Nesta semana, os senadores Bob Menendez (D-NJ) e Marco Rubio (R-FL) apresentaram uma nova legislação apelidada de “Lei de Estratégia de Segurança do Hemisfério Ocidental”. Se aprovado, o projeto de lei exigiria que os Departamentos de Defesa e Estado estabelecessem novas estratégias para melhorar os compromissos diplomáticos e de segurança dos EUA com a região.


Na nota da diplomacia, os Estados Unidos também devem ampliar suas ações sob a Lei TAIPEI de 2019. O escopo da lei visa aumentar o envolvimento com Taiwan, incentivando laços oficiais e não oficiais mais fortes com países terceiros. Isso é particularmente crítico na América Latina, lar de oito dos restantes parceiros oficiais da ilha. Embora a recente mudança na retórica de Xiomara Castro (esposa do Manuel Zelaya), de Honduras, juntamente com a presença do vice-presidente taiwanês William Lai na posse da supracitada seja um sinal positivo que reflete os objetivos do ato, ações sustentadas devem ser tomadas.


Os Estados Unidos podem ajudar ainda mais sua causa investindo em infraestrutura crítica em toda a região. Com base no Build Back Better World (B3W) do governo para competir com o BRI da China, o B3W pode oferecer aos países latino-americanos uma gama mais ampla de opções de desenvolvimento econômico, enfatizando a transparência e expondo a potencial corrupção nos acordos do BRI (Diplomacia da Dívida).


Uma turnê de audição para começar a explorar possíveis projetos da B3W foi realizada em três países da região no final do ano passado e deve ser seguida por outras turnês de nível superior em 2022. A vice-presidente Harris também pode tirar uma página do manual de Biden, expandindo seu papel como enviada do país para a América Latina e gerando maior atenção da mídia para o plano do governo.


Em 2000, os Estados Unidos eram o principal parceiro comercial de todos os países sul-americanos, exceto um. Muita coisa mudou nas duas décadas desde então, e Pequim agora eclipsou o lugar de Washington no topo em todos, exceto em três.


Se os Estados Unidos querem levar a sério a competição com a China e se demonstrar como líder global, não podem continuar ignorando seu próprio quintal.


Joe Bauer é recém-formado pela Johns Hopkins School of Advanced International Studies. Ele reside em Washington, DC.


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