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O Significado do Mandato de George W. Bush

- HEITOR DE PAOLA - ESTADOS UNIDOS - MÍDIA SEM MÁSCARA - 15 DE JUNHO DE 2004 -


Em novembro de 1980 logo após o resultado oficial das eleições presidenciais americanas, vencidas por Ronald Reagan, comentei provocativamente com um amigo comunista que finalmente os EUA teriam um Presidente de verdade, depois do vexame Carter. Sua reação foi de fúria, o que eu já esperava. O que me surpreendeu foi a reação das demais pessoas presentes na banca de jornais, incluindo o jornaleiro: foram unânimes em dizer que agora íamos ter guerra porque ‘este cow-boy é belicoso e metido a ditador’!


O SIGNIFICADO DO MANDATO DE GEORGE W BUSH
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President must be the source of leadership, spirit and action. The President must speak for America and set her national agenda (...) he must also respect and reflect the desires of his countrymen (...) This is the paradox (…) One must serve the People but be wiling to lead them too – sometimes in new or controversial directions.
RONALD REAGAN
‘The Man who Won the War’

Vinte anos depois, assisti mais uma vez uma campanha mundial, agora contra George W Bush. De saída Bush já estava ‘queimado’ na mídia como burro, ex-alcóolatra, incapaz, mais uma vez cow-boy – com a agravante de ser texano, de família abastada ligada ao petróleo. O mundo inteiro se mobilizou contra Bush, como se todos fôssemos votar. O infeliz desempate na Florida, governada por seu irmão Jeb – aonde, não obstante, ganhou limpo por diferença ainda maior, segundo a Associação dos Jornalistas da Florida, que prosseguiu a re-contagem independente – estigmatizou-o ainda com o rótulo de Presidente ‘ilegítimo’. Nas três eleições intermediárias nada disto ocorreu, nem mesmo na que elegeu Bush Sr em 1988. O casal Clinton obteve quase unanimidade na mídia internacional, apesar dos escândalos na administração do Arkansas, como o do loteamento Whitewater, do qual restou até o suicídio (?) de um ex-sócio da Primeira Dama, e durante o próprio mandato o affair estagiárias. Por que tanto preconceito (para usar um termo que as esquerdas adoram ver aplicado aos outros)? O que haveria de comum entre as candidaturas e respectivos mandatos Reagan e Bush Jr? Para responder a isto é preciso retornar aos anos 50.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Com o fim da II Guerra Mundial e a vitória aliada comandada pelos Estados Unidos da América, este país entrou num verdadeiro boom econômico, aumento enorme do consumo, progresso tecnológico, científico e industrial. Em 1952 elege-se Presidente o Herói de Guerra, ex Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa, Dwight D Eisenhower, chamado carinhosamente Ike – o primeiro Republicano em décadas - e os EUA assumem isolados o posto de primeira potência mundial e nuclear. Inicia-se também o período que se convencionou chamar guerra fria, que esquentou com a invasão da Coréia do Sul pela do Norte, com apoio da China e da URSS, e a declaração de guerra endossada pela ONU. Esta guerra foi lutada com o mesmo entusiasmo heróico e patriótico com que havia terminado a Mundial, os EUA novamente no papel de liderança do mundo livre contra o totalitarismo. O povo americano orgulhava-se de seus G-men. Ike seria re-eleito em 56 fazendo um governo de prosperidade. No entanto, o pedido de endosso pela ONU abriu um grave precedente. Esta organização representa a concretização embrionária de um futuro – já não tão longínquo assim – governo mundial. A solicitação de endosso deu à mesma uma legitimidade que veio se impondo ao longo do tempo não apenas de arbitrar conflitos mediante a requisição voluntária dos contendores, mas de transformar-se num poder decisório por si mesmo, interferindo diretamente na soberania dos países membros, mesmo sem solicitação, por resolução ‘soberana’ (sic) de seu Conselho de Segurança. Criava-se, paulatinamente, a noção estapafúrdia de ‘hegemonia da comunidade internacional’. O movimento no sentido de desenvolver mecanismos decisórios multilaterais teve sua origem no planejamento estratégico da URSS, que despontou no interior dos EUA através de ‘companheiros de viagem’ inicialmente no meio estudantil. Em 1962, Tom Hayden, marido de Jane Fonda e posteriormente Senador, lançou o Port Huron Statement of the Students for a Democratic Society, onde se declarava a intenção de que os EUA deixassem de ignorar os ‘problemas globais’, tais como fome, meio ambiente, revolução, superpopulação e guerra, e reconhecessem sua responsabilidade e se empenhassem em resolve-los. Iniciava-se um movimento que pode ser chamado de envergonhe-se de ser americano ou odeie primeiro a América. A enorme afluência dos EUA seria a causa direta ou indireta de todos os males do mundo. Não foi coincidência que este pronunciamento veio à luz pouco depois da Crise dos Mísseis em Cuba do qual Kennedy – e o mundo inteiro – acreditou que o Ocidente saíra vencedor, quando na verdade não passou de uma bem urdida e arriscada manobra de Kruschev para arrancar um Tratado no qual os EUA se comprometiam a jamais intervirem em Cuba, propiciando a tão desejada base de operações comunista a poucas milhas da costa inimiga. A má conduzida Guerra do Vietnã com o enorme descontentamento popular que se seguiu colocou a pá de cal que faltava no orgulho nacional americano e a nação mais potente da Terra transformou-se num joguete da então embrionária ‘comunidade internacional’. Outros ‘companheiros de viagem’ vieram a se somar dentro e fora das Universidades. Dentro, através de um movimento que se apresentava como libertário, mas que de fato era liberticida, comandado por marxistas da Escola de Frankfurt exilados nos EUA, como Herbert Marcuse e Erich Fromm, entre outros. O primeiro através de uma excrescência pseudo-intelectual em que misturava psicanálise com marxismo – a ‘mais repressão’, mistura de mais-valia com repressão sexual – deu a partida para o movimento é proibido proibir! – que resultou na loucura inútil de Woodstock e nas arruaças de maio de 1968, muito bem coordenadas mundialmente para serem espontâneas. Fora das Universidades, pela crescente influência das idéias socialistas que culminaram na desastrada política econômica de Lyndon Johnson, magistralmente demonstradas no artigo de José Nivaldo Cordeiro A Tragédia e a Farsa. De onde poderia vir uma solução – Richard Nixon – veio mais trapalhada incluindo Watergate, renúncia, posse e re-eleição de um Presidente fraco e despreparado - Gerald Ford – e finalmente o desastroso fiasco Jimmy Carter! URSS em franca expansão – 14 países foram acrescentados a seu império na década anterior – derrotismo generalizado, desmoralização das Forças Armadas, declínio econômico, estagflação de 27%, juros nas alturas 21%, desemprego de 11% e crescente. Carter só sabia diagnosticar que os EUA sofriam de uma doença, a debilidade – malaise – sem perceber que ele e sua administração eram os principais agentes patogênicos! A situação estava do jeito que as esquerdas – internas e externas – adoravam pois punham em cheque o poderio americano, expondo-o ao ridículo de uma administração débil e covardemente submetida à ‘comunidade internacional’.

* * * * * * * * * * * * * * * * Foi neste contexto que Reagan foi eleito e tão logo tomou posse definiu logo os dois principais inimigos. O externo, a URSS que apropriadamente denominou Império do Mal, que atacou a golpes de incremento do orçamento militar, incluindo o programa Iniciativa de Defesa Estratégica (Star Wars). Não deu a mínima para a ONU e seu conceito de diplomacia não passava da noção simples, direta e correta de quem não está conosco, está contra nós! Dentro desta perspectiva revogou a tibieza de Carter em lidar com os países amigos – alvo das ações do último com relação aos ‘direitos humanos’ – atacando os verdadeiros inimigos, onde se desrespeitavam estes direitos de forma sistemática e institucionalizada. Como bem o diz João Costa em seu excelente artigo : O que teria sido dos Estados Unidos e do mundo caso Reagan tivesse cedido às pressões internas dos pacifistas e da intelligentzia e, ao invés de acelerar a corrida armamentista de modo a demonstrar a inviabilidade econômica do sistema soviético, ele se posicionasse passivamente frente aos soviéticos com um discurso forçado de mea culpa, buscando catar as migalhas de um acordo de paz impossível? E o duplo inimigo interno, a débâcle econômica que atacou com golpes certeiros e ousados de liberalismo econômico, enterrando de vez os desastrosos New Deal, de Roosevelt, e a Great Society de Johnson; e a restauração dos valores tradicionais americanos - éticos, morais e religiosos - que se esvaíam num eterno Woodstock. Seu Vice e sucessor, Bush Sr não estava à sua altura e, embora tido como belicoso por causa da Guerra do Golfo voltou à velha prática de submissão dos interesses americanos à ONU e aos mecanismos multilaterais – só depois deste apoio desnecessário respondeu aos apelos de seu aliado Kuwait - apoiou as radicais mudanças propostas pela UNESCO na educação americana (Projeto 2000) e perdeu-se na condução da economia.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Os oito anos da Administração Clinton – que se beneficiou até 97/98 dos efeitos de longo prazo da reaganomics - foram caracterizados por uma volta à política de Carter: cortes nas despesas militares e de relações exteriores, liderança inconstante e titubeante levando a uma grande dificuldade para manter a influência americana nos assuntos mundiais, volta da submissão à ONU e aos mecanismos multilaterais. O desmantelamento dos órgãos de segurança, principalmente da CIA e do FBI, deixou os EUA vulneráveis a ataques terroristas como o de 11 de setembro de 2001, embora os democratas venham tentando desonestamente jogar a culpa sobre a Administração Bush. Os elementos essenciais do sucesso de Reagan foram paulatinamente abandonados: Forças Armadas fortes, política externa visando os interesses americanos e defender seus princípios, e uma liderança que aceitava as responsabilidades globais. O mundo estava preparado para o prosseguimento desta insânia com a eleição do Vice Al Gore, ainda mais comprometido do que Clinton com a esquerda mundial globalizante cujo principal interesse é diminuir o poder americano. O descalabro era tão grande que levou um grupo de americanos conservadores influentes a elaborarem um projeto estratégico para reverter a situação aos tempos de Reagan. Em junho de 1997 tomou corpo o Project for a New American Century , a primeira reação estratégica de longo prazo para recuperar o prestígio e o poder dos EUA frente às ameaças terroristas em relação às quais Clinton acumulou fiasco sobre fiasco. Os objetivos deste Projeto são: incrementar os gastos militares para modernizar as Forças Armadas; estreitar os laços com aliados democráticos – particularmente Israel – e enfrentar regimes hostis aos interesses e valores americanos; promover a liberdade política e econômica; aceitar as responsabilidades inerentes ao papel de liderança dos EUA no mundo e garantir sua segurança, prosperidade e princípios. Assinaram a Declaração de Princípios, entre outros, Jeb Bush, Elliot Abrams, Dick Cheney, Francis Fukuyama, Dan Quayle (ex-Vice Presidente), Donald Rumsfeld e Paul Wolfowitz. Este grupo percebe também como óbvio que os interesses americanos e europeus diferem cada vez mais, assim como com a ONU, e desde o início se opuseram a que os EUA submetessem qualquer plano de ação militar ao Conselho de Segurança, chegando a sugerir a Clinton em 98 a deposição de Saddam, com ou sem apoio da ONU. Ressaltam que os mesmo países que tentam algemar os EUA a mecanismos internacionais não os respeitam: Rússia, China e França não submetem as decisões sobre segurança nacional à ONU. Esta só pode funcionar com base nos interesses particulares nos países que integram o Conselho de Segurança, não como a voz benigna de uma imponderável ‘comunidade internacional’. Instala-se, assim, a guerra assimétrica no plano diplomático: EUA e Israel têm que abrir mão de suas soberanias e pedir aprovação da ONU para tudo, os demais não: bombardeia-se a Chechênia, invade-se o Tibet, ameaça-se Taiwan com o maior desplante. Pode-se dizer que a candidatura Bush é fruto deste projeto e, sendo vencedora, frustrou enormemente os planos dos inimigos – internos e externos – dos EUA. Identificou claramente o Eixo do mal e iniciou o bem combate. Não é por outra razão que a campanha contra a re-eleição de Bush seja tão forte e a exacerbação do antiamericanismo tenha atingido proporções alarmantes em seu mandato. Frustraram-se os planos de por de joelhos a maior potência da Terra, como nos anos 60. É inevitável reconhecer que o exercício do poder americano é a chave para a manutenção da paz e da ordem no mundo. Como bem o disse Gary Schmitt no Los Angeles Times: ‘Quem poderá lidar efetivamente com uma Coréia do Norte nuclearizada? Quem impedirá a tomada da democrática Taiwan pela China? Quem impedirá os radicais islâmicos de se apossarem de armas de destruição maciça? Quem confrontará regimes terroristas como Irã, Síria e Líbia? Nossos aliados, com seus cortes dos orçamentos de defesa? Certamente não!’ É claro que é muito difícil encontrar um outro Reagan, que possuía um insight invejável sobre os interesses americanos e agia mais por espontaneidade. É necessário um planejamento eficiente e um Presidente disposto a cumpri-lo. Parafraseando o saudoso Ron: so far, not bad, not bad at all!


 
Heitor De Paola, MSM, em 15 de junho de 2004

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