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O QUE ESPERAR DA SUPER TERÇA?

03/03/2020


- por HEITOR DE PAOLA -



A chamada SuperTuesday é o dia, hoje, em que o maior número de Estados escolhe seus Delegados às Convenções dos partidos, este ano acrescida do Estado mais populoso, Califórnia.


Nas Primárias Republicanas [[i]]Donald Trump navega fácil e rápido em mar de Almirante. Mas entre os Democratas [[ii]]a corrida está embrulhada entre os quatro candidatos que sobraram depois das primeiras decisões de Iowa, New Hampshire, South Carolina e Nevada: Bernie Sanders, Joe Biden, Elizabeth Warren e Michael Bloomberg. Sanders ganhou por ampla maioria (46,8% - 24 Delegados) em Nevada e por pouco em NH, empatando com Peter Buttigieg em 9 Delegados, mas este último, mesmo tendo vencido em Iowa, desistiu e apoia Biden que ganhou fácil em South Carolina (48,7%) levando 38 Delegados.


Antes de prosseguir é preciso acrescentar que, enquanto no Partido Republicano é usada a regra de “winner-takes-all”, no Democrata é proporcional, sendo que é necessário obter 15% dos votos em cada Estado para entrar na competição.


Estão em jogo, hoje,1.375 (1/3) dos 4125 delegadosque se somarão na Convenção aos UnpledgedDelegates (Delegados não comprometidos) ou Superdelegates. O total é de 4754 Delegados(4,750 votos, pois 8 “DemocratsAbroad” tem ½ voto cada). Os Superdelegadosconstituem o establishment Democrata e a partir da Convenção deste ano só poderão votar num 2º escrutínio caso nenhum candidato obtenha maioria. Os Superdelegados são os distinguishedpartyleaders (30), Membros da Câmara (236), Membros do Senado (47 + Sanders que não é Democrata mas no Congresso pertence à bancada (caucus) democrata), Governadores (28) e delegados eleitos pelo DemocraticNational Committee (438).


Foi exatamente o establishment que detonou a campanha de Sanders em 2016 votando na Convenção maciçamente em Hillary. Novamente Sanders parece estar em vias de ganhar as primárias e isto representa um enorme risco de derrota frente a Trump. Os Republicanos já estão pintando os Democratas como radicais de extrema esquerda ao ligar todos a Sanders, um comunista de carteirinha que elogiou diversas vezes Fidel Castro e a revolução cubana. Com isto possivelmente perderá as primárias na Florida. É hoje que ele tem chance de deslanchar e colocar em cheque o establishment do próprio partido. Este, em princípio, teria a optar entre Bloomberg e Biden. Mas o primeiro só começará a se apresentar hoje, evitou as 4 primárias passadas jogando todas suas fichas na SuperTuesday. Por esta razão o establishment já está apoiando Biden, depois da vitória significativa em South Carolina.


Seus competidores moderados, o Prefeito de South Bend, Ind., Pete Buttigieg e a Senadora Amy Klobuchar (D-Minn.) desistiram de concorrer e declararam apoio a Biden ontem. A corrida para apoiá-lo nas últimas 24 horas foi assombrosa! O medo de Sanders ganhar a indicação, que é um presente dos deuses para Trump, só faz crescer o número de apoiadores.


Mas há vários fatores em jogo.


Um deles é o fator econômico: a fortuna de 56 bilhões de dólares gasta por Bloomberg para garantir apoios hoje e mais adiante. Esta fortuna está sendo gasta desde Novembro pagando muito bem a mais de 2.000 pessoas para seu entourage o que o levou a um terceiro lugar na projeção da média das primárias do site Real ClearPolitics com 16%, batendo todos os demais concorrentes que não Biden ou Sanders.


As características demográficas e ideológicas dos Estados que votam hoje também influenciam: nos Estados do Oeste, incluindo a Califórnia (415 Delegados), Sanders leva muita vantagem e no Sul Biden tem perspectivas excelentes. Texas (228 Delegados), Oklahoma, Arkansas e North Carolina são dados como certos pela sua campanha. Mas será preciso ver os votos reais.


Elizabeth Warren depende só dela mesma para se manter no páreo. Se ela não vencer, ou ao menos ficar em 2º lugar por pequena diferença em seu Estado, Massachusetts (91), ela dificilmente poderá prosseguir. Segundo as projeções do mesmo site ela está perdendo para Sanders por 4 pontos. Ela fez dois comícios sexta e sábado.


Podem ser previstos vários cenários.


O menos provável é uma surpresa da própria Warren, que diferentemente dos outros, não desistiu de enfrentar esta terça fatal. Tanto na Califórnia como no Texas, os dois maiores Estados a decidir hoje, ela está num sólido terceiro lugar atrás de Sanders e Biden. Em ambos ela supera os 15% necessários.


Uma má performance de Bloomberg seria o pior cenário para o bilionário que marcou como oponente principal Joe Biden e já o viu ganhar a South Carolina. A premissa de Bloomberg era de que Biden é um fraco candidato, o que se mostrou errado. Seria uma derrota muito grande se não conseguisse ser bem votado nos dois principais Estados. E ainda têm os Estados do Sul, onde Biden pode ganhar com os votos dos eleitores negros em Alabama, North Carolina e Tennessee e Bloomberg talvez não passe dos 15%.


O pior cenário para a tentativa do establishment de unir os moderados seria a vitória de Sanders e um segundo lugar embolado. Há poucas dúvidas que Sanders será o vencedor hoje. Também é possível que os outros três consigam os 15% em vários Estados para irem em frente. Warren, além de seu Estado, é forte na Califórnia, Biden conta com o voto negro no Sul e Bloomberg não gastou toda aquela dinheirama para nada: seus anúncios na TV são a toda hora.


Com o primeiro lugar quase assegurado, o que importa aos demais é obter um segundo lugar com pequena diferença, para mostrar força e capacidade de chegar à Convenção podendo disputar com Sanders no segundo escrutínio com aquela vantagem já referida do voto dos Superdelegates. Quem tem menos chance é Warren, que só conta com sua força na Califórnia além de seu Estado. Bloomberg, como ficou claro, é uma incógnita.


Mas e se Sanders conseguir um resultado acima da expectativa, digamos, uns 200 Delegados? Ele pode se dar muito bem no Maine, Massachusetts e Vermont. Mas este cenário dos sonhos de Bernie dificilmente ocorrerá.


Há uma grande possibilidade de que haja uma “contestedconvention” fazendo necessário o segundo escrutínio, fatal para Sanders – e, indiretamente, para Trump que conta com a vitória do velho comunista para enfrenta-lo. Por outro lado, Biden tem dado sinal de problemas sérios de memória e confusão com palavras, o que poderá ser bem explorado por Trump num debate.


(Escrito com consultas aos seguintes sites: The Hill, Washington Examiner, Real Clear Politics, CNN, American Thinker, Cook Political Report. Sou responsável por todas as conclusões acima).

 

[i]Alabama, Arkansas, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, North Carolina, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont. [ii] Os mesmos mais American Samoa (Território e único caucus e não primárias) e Virginia.

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