top of page

O PRIMEIRO ENCONTRO

02/07/2019


- Jacy de Souza Mendonça -



O belo trem, vindo de Porto Alegre, no final do trajeto, fôra substituído por um precário ônibus, que tinha chegado à estação (?) de minha primeira Comarca como Promotor de Justiça. Procurei um veículo que me levasse ao hotel e tive o primeiro choque: não havia hotel na cidade. Fui informado então de que o proprietário de pequeno bar construíra quatro quartos para alugar no andar superior de seu estabelecimento. Não quis sequer imaginar a natureza da utilização daqueles aposentos; rumei para lá e hospedei-me em um deles. O banheiro era um só: pequena construção de madeira nos fundos, distante da construção principal por razões óbvias. O banho era difícil porque eram vários os hóspedes, não havia água encanada e, naquele frio gaúcho, um balde de água quente precisava ser encomendado com antecedência. A água era colocada em um latão com um acessório perfurado e uma boia acionável por pequena correia. Esse mecanismo era içado por meio de uma corda com roldana e transformava-se em chuveiro.

O café da manhã era tomado em pequena sala ao lado do bar. Sentei-me aguardando ser servido. A escada de madeira que ligava o bar ao andar dos quartos ficava exatamente na saleta do café. Eis que percebo que alguém descia por ela, de tamancos, produzindo um tic-toc irritante. Pior: ele transportava um penico com sua produção noturna... Em profundo desagrado, chamei o dono do bar e protestei veementemente contra o ocorrido. Ele tinha um tique nervoso que fazia com que gaguejasse, piscasse os olhos e fizesse movimentos estranhos com a boca, tudo ao mesmo tempo. Nessas condições, quando conseguiu, respondeu-me:

- Eu lamento, doutor, mas não posso fazer nada. Ele é o nosso Juiz.



- Após a leitura, favor fechar essa guia para uma navegação otimizada pelo site -

21 views0 comments
bottom of page