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O MAGISTÉRIO

Jacy de Souza Mendonça 27/06/2020




Sempre sonhei com o magistério. Na Faculdade de Direito, mantive esse sonho, mas não me interessava pelas matérias do pragmatismo profissional. Talvez o Direito Penal, por sua proximidade com questões essencialmente humanas de psicologia e filosofia. Aos 15 anos de idade tinha lido o primeiro livro de História da Filosofia e me encantado por ele; em paralelo com o Direito, matriculei-me, por isso, na Faculdade de Filosofia, com a atenção voltada para a Filosofia do Direito. Esbarrava, porém, em uma barreira intransponível: tive Armando Câmara como professor de Introdução ao Estudo do Direito e de Iniciação à Filosofia; foi a mais fantástica inteligência que encontrei na vida. Era tão grande, que ocupar o lugar dele ou sucedê-lo faziam-se impensáveis. Mas a vida jogou-me em uma cilada. Quando assistia aulas dele na Faculdade de Filosofia, fui convidado, em público, para ser seu assistente na Faculdade de Direito. O medo fez com que rejeitasse o convite e resistisse a ele durante muito tempo; fracassei frente à insistência. Assim comecei minha atividade como professor de Filosofia do Direito, fato que narrei no livro Diálogos no Solar dos Câmara (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Só consegui sobreviver àquele impacto graças ao carinho de generosos amigos e geniais professores com os quais convivi. Apeguei-me, então, à atividade, que pretendia exercer até o último dia de minha vida, sonho que a velhice abortou. Mas tudo o que fiz no Ministério Público e no magistério do ensino superior foram meras consequências daquele convite assustador.


Gostei muito de meus 15 anos como Promotor de Justiça, mas gostei ainda mais dos quase 50 anos como professor de Filosofia do Direito. Uma coisa aprendi: nós não construímos nossa vida, ela é que nos constrói.

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