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O Desenvolvimento de um Presidente?

13/01/2020


- THE MIDDLE EAST MEDIA RESEARCH INSTITUTE -

Yigal Carmon *




Há alguns meses, devido às repetidas faltas de reação por parte do presidente Trump face a grandes provocações iranianas, escrevi um artigo contundente entitulado "Sem princípios, sem dignidade, sem poder e sem poder de dissuasão" [1], no qual argumentava que, aparentemente, a compreensão de que princípios, dignidade e poder se traduzem em dissuasão, impedindo assim a escalada de uma guerra muito mais extensa e cara, estaria além da compreensão de Trump como grande empresário do setor hoteleiro que é. Hoje, no entanto, devo cumprimentá-lo; ele claramente passou por uma grande transformação. Hoje, ele parece entender que liderança significa não apenas fazer negócios e, particularmente, em não lidar com o Mal. Finalmente, ele entendeu que a arte dos negócios pertence ao mundo comercial e que, como líder da única superpotência responsável pela segurança do mundo livre, ele deve se apoiar em princípios, sim, e mesmo na dignidade e na prontidão em utilizar seu poder quando absolutamente necessário.


Na operação para derrubar Qassem Soleimani, ele reverteu todos os elementos de fraqueza que caracterizaram sua conduta anterior. Desta vez, a equipe de segurança nacional que ele comandou demonstrou inteligência, superioridade tecnológica e política, supreendendo politicamente o adversário iraniano, e estes elementos combinados levaram a uma deterrence. O regime iraniano, assustado e assim dissuadido, foi extremamente cuidadoso em sua resposta, evitando ceifar vidas americanas, o que merece um prêmio global em  inovação por fazer guerra sem baixas (exceto por pedaços de louça plástica  quebrada).[2] Assim como os iranianos não se atreveram a cumprir suas ameaças, o foguete de Pyongyang também não se atreveu a brincar de Papai Noel com sua promessa de um “presente de Natal” - ele também ficou com receio de uma "resposta desproporcional" por parte de Trump.


Aqueles guiados pelo histórico anterior de Trump podem ver seu dramático ataque  a Soleimani como mais um sinal de um comportamento eivado de caprichos. Eles zombam, dizendo que ele simplesmente acordou do lado errado da cama; que ele precisava iniciar sua campanha eleitoral, e assim por diante. Eles se recusam a dar-lhe crédito por passar por uma mudança profunda.


Somente a resposta de Trump a crises futuras poderá dizer se a operação de Soleimani foi pontual, baseada em uma resposta instintiva, e não no  pressuposto presidencial de responsabilidade e liderança. No entanto, as medidas de Trump após a crise atestam a existência de uma mudança genuína como, por exemplo, sua política de combinar uma interrupção no processo, antes de uma nova escalada, mantendo-se firme diante de todas as demandas e ameaças iranianas. Ontem (12 de janeiro de 2020), ele twitou: "Na verdade, pouco me importo se eles negociarem"[3], mostrando uma compreensão profunda de que negociar com o Mal é tanto fútil quanto autodestrutivo.



Trump, como é de conhecimento geral, está pronto para deixar o Iraque e o Afeganistão, mas não como um poder derrotado como Soleimani queria e como o quer o Talibã. Desde a crise, não ouvimos Trump falar sobre um acordo com o Irã, o qual atacou a Embaixada dos EUA em Bagdá e estava muito perto de capturá-la e levar os funcionários como reféns ou algo pior. Ao invés disso, Trump expressa encorajamento aos manifestantes que buscam a queda do regime iraniano ditatorial: "Para o corajoso e sofredor povo iraniano: estou do seu lado desde o início de minha Presidência, e meu governo continuará com vocês. Estamos acompanhando de perto seus protestos e somos inspirados por sua coragem."[4]  Ele mostra compreensão: o confronto com o Mal é inevitável porque o Mal os persegue, mesmo que vocês tentem evitá-lo. A escolha é entre levantar-se e vencer ou ser derrotado de maneira humilhante, mas o presidente Trump rejeita a derrota.


No meu artigo crítico anterior, questionei o gesto de Trump ao restaurar o posicionamento do busto de Winston Churchill, que Barack Obama havia banido do Salão Oval porque acreditava na paz através do apaziguamento. Na época, o gesto de Trump me pareceu vazio, já que sua política real era o oposto da de Churchill. No entanto, a maneira como ele lidou com a crise atual com o Irã, mostra intuitivamente que ele começou a exibir os mencionados princípios de Churchill. A dissuasão que ele alcançou estende-se para além do Irã, atingindo a outros líderes canalhas no Oriente Médio e em todo o mundo. Aquele que teve a coragem de derrotar Soleimani, aparentemente está disposto a enfrentar outros valentões. Trump estabeleceu linhas vermelhas de demarcação e, ao contrário de seu antecessor, ele as manteve.


O sucesso de Trump no confronto com o Irã é uma experiência de aprendizado em sua presidência bem como para os adversários e amigos dos EUA. Isto pode marcar uma metamorfose pessoal de Trump, evitando celebrar um acordo onde não há acordo a ser feito, passando a assumir o papel de combater o Mal, o que mesmo na vitória é um papel trágico e doloroso para um presidente e um líder do mundo livre.


 

[1] Veja MEMRI Daily Brief No. 198, No Principles, No Dignity, No Power, No Deterrence, September 19, 2019.

[2]  Eis uma referência ao ridículo em que foi lançado o Irã, emitida pelo Grupo jihadista salafista Hay'at Tahrir Al-Sham (HTS): "As perdas resultantes dos ataques iranianos contra uma base americana incluem: 12 xícaras de chá, 6 pratos de plástico, 6 garfos, 5 colheres, um fogão a gás, um par de chinelos de plástico (que Allah o cubra de honras), meio quilo de açúcar, duas pilhas de pão e duas latas de sardinha compradas através de crédito na loja Salih Al-Samman.”

[3] Twitter.com/realdonaldtrump, January 11, 2020.

[4] Twitter.com/realdonaldtrump, January 12, 2020.

 * Yigal Carmon é fundador e presidente do MEMRI.

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