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Ni Un Paso Atrás!

HEITOR DE PAOLA - OFFMÍDIA - 18 DE DEZEMBRO, 2002


Com este brado, mil vezes repetido pela população venezuelana nas últimas semanas, meu amigo e colega Rómulo Lander se despede após uma vibrante carta em que descreve, e pede para divulgar, a dramática situação vivida por aquele País vizinho.


É impressionante e assustador como nossa mídia, escrita ou televisionada, relegou este assunto para as últimas páginas da seção internacional dando o mesmo espaço para os 90% da população rebelada e para Chávez e seus asseclas. Certo, Chávez é o Presidente eleito, mas como diz Rómulo se isto faz com que tenha legitimidade de origem, em quatro anos de governo autoritário perdeu a legitimidade democrática. A democracia não está somente na vontade eleitoral do povo soberano, mas também na separação entre os Poderes, seqüestrados e manipulados por ele. A comparação com Hitler e Mussolini é justa. O Paro Nacional ou Greve Geral, que atingiu toda a população, até mesmo os funcionários da estatal PdeVeSA (Petróleo de Venezuela SA), já vai para o décimo oitavo dia e contém a seguinte mensagem: não queremos o regime comunista implantado por Chávez! Um funcionário da estatal expressou o sentimento geral: greve até que ele se vá!



O movimento não é golpista, pede uma saída eleitoral rápida, tanto que os militares rebelados se declararam, desarmados, em desobediência legítima, contemplada pela Constituição elaborada pelo próprio Chávez e homologada em plebiscito nacional. Este é um ponto que nossa mídia não enfoca fazendo com que os leitores e expectadores vejam nestes militares os golpistas de outros tempos! Não acredito que nossos repórteres sejam tão cegos, está havendo é sonegação e manipulação de informações já que o Governo que sai (FHC) não quer saber de encrencas que prejudiquem sua candidatura à ONU, e o que entra (PT) é declaradamente aliado do tirano e, com ele, co-partícipe do Fórum de São Paulo, cuja existência alguns articulistas ridiculamente insistem em negar.


A própria CNN desvirtua as informações. Rómulo diz que não havia se dado conta disto até que passou a ver como estavam relatando notícias sobre momentos vividos por ele, sua família e amigos. Diferentemente daqui, todavia, lá a imprensa também está rebelada, porém sob constante ataque dos Círculos Bolivarianos, espécie de Guarda Pretoriana de Chávez. Não se sabe até quando funcionarão porque estão desprotegidos na medida em que a Guarda Nacional protege os agressores. Leio, hoje, no site do principal jornal de Caracas, El Nacional, um alerta aos usuários de que, através de correio eletrônico estão sendo divulgadas notícias falsas com o look do el-nacional.com, com a finalidade de prejudica-lo espalhando boataria.


Nas palavras de Rómulo estão todos com a greve e com a resistência cívica ativa e pacífica. “Marchamos, continua, diariamente, com risco da própria vida. Mas nossa motivação não esmorece. Há momentos sublimes onde brancos, negros, ricos e pobres, sadios e doentes, se encontram. Às vezes encontramos nosso filho ou nossa filha entre meio milhão de pessoas”.


Uma semana depois destas pungentes palavras a população continua e aprofunda a luta. Como disse hoje um Tenente dos Fuzileiros: Continuaremos lutando até que nosso País volte a ser livre, ao colocar uma flor no túmulo de Bolívar. Os petroleiros da refinaria gigante de Hovensa, em St. Croix, Ilhas Virgens, um dos esteios venezuelanos, anunciaram que nenhum embarque de gasolina seguirá rumo à Venezuela. As principais ruas e avenidas de Caracas e das principais cidades foram fechadas pela multidão. Até mesmo a Rodovia Pan-Americana acaba de ser fechada por pessoas que vivem na vizinhança.


O mentor político de Chávez e ex Ministro do Interior, Luís Miquilena, ex dirigente do Partido Comunista, afirma que o Presidente está vivendo num mundo virtual de negação quando pergunta greve, que greve? a seus auxiliares. Parece viver num mundo que já não existe. Até há pouco considerado apenas um palhaço inofensivo e excêntrico, agora é visto como um louco. Já se fala abertamente que a crise da Venezuela não é política nem econômica, é psiquiátrica e corre solto o brado al loco le falta poco! Ele mesmo um golpista no passado, agora vê golpes por todo lado.


Além do espanto com a mídia brasileira chapa-branca, onde estão as belas almas solidárias que sempre prestaram seu apoio aos cazerolazos na Argentina? Por que não o fazem pelo povo venezuelano, pergunta um amigo, numa mensagem revoltada. Será por causa do explícito apoio das esquerdas ao “culto” Presidente Chávez? Onde estão as Madres y abuelitas de la Plaza de Mayo? Onde os prêmios Nobel da Paz, como o Esquivel, que soube muito bem apoiar a aventura militar nas Malvinas/Falklands. Onde estão os protestos de nossos partidos dito “progressistas”? A própria lentidão com que a OEA discute o caso mostra a profunda divisão dos países que, ah! se fosse contra um Pinochet ou Fujimori, já estariam cheios de protestos e apoios.


 
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