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Comando da Fiocruz condena neoliberalismo e mantém parceria com grupo revolucionário

- GAZETA DO POVO - 30 MAIO, 2021 - Gabriel de Arruda Castro -


Na CPI da Covid no Senado, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, foi criticada por ter afirmado, em uma conversa privada, que todos os tapetes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) têm a imagem do revolucionário comunista Che Guevara. Ela também gerou reações variadas por, na mesma conversa, ter dito que havia um "pênis inflável" na porta da organização. Embora a secretária provavelmente tenha usado de hipérboles, ela posteriormente enviou à Gazeta do Povo uma fotografia que parece comprovar sua segunda alegação. A imagem mostra uma campanha de prevenção ao HIV na entrada da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Independentemente das polêmicas levantadas na CPI, não é possível dizer que a fundação é um órgão puramente técnico, imune a influências político-ideológicas.

A tendência à esquerda começa no cargo mais alto da fundação: a atual presidente é Nísia Trindade Lima, que tem um histórico de ligação com o Partido dos Trabalhadores (PT). Ela foi eleita para o comando da Fiocruz em 2017 e, no início deste ano, reconduzida ao cargo. Se a votação for um termômetro da orientação ideológica dos funcionários da Fundação, a tendência é clara: Nísia teve 87% dos votos válidos na disputa deste ano. Os deputados Paulo Teixeira, Afonso Florence e Chico D'Angelo, todos do PT, chegaram a se reunir com o então ministro da Saúde, Ricardo Barros, para pedir que ela fosse nomeada - apesar de ter obtido mais votos, ela poderia, em tese, ser preterida pelo presidente Michel Temer, que poderia ter optado por qualquer um dos três mais votados.

Curiosamente, Nísia não tem formação acadêmica na área de ciências biológicas ou medicina: ela possui graduação e doutorado em Sociologia, com mestrado em Ciência Política. O segundo colocado na eleição, Rivaldo Venâncio, é outro militante de esquerda – que protestou contra a prisão do ex-presidente Lula em 2018.

Mais recentemente, já sob o governo Bolsonaro, a entidade deu outras pistas de suas preferências ideológicas. Dentre os projetos mantidos pela fundação, está ainda o Agenda Jovem – Fiocruz, que produz debates periódicos. Um dos mais recentes tinha como tema “Como a juventude resiste e se reinventa", e teve a participação de Júlia Aguiar, uma das diretoras da União Nacional dos Estudantes (UNE). O mais grave: o projeto Agenda Jovem é uma parceria da Fiocruz com o Levante Popular da Juventude, uma organização abertamente marxista. Em sua página na internet, o Levante se define desta maneira: “Nossa inspiração tem vínculo profundo com a Esquerda Revolucionária que por meio da construção de um marxismo vivo deu origem à luta armada contra a ditadura no Brasil, à Teologia da Libertação, à revolução cubana, à revolução nicaraguense e outras experiências de libertação nacional na Ásia e África”. Isto não impediu a Fiocruz de estreitar os laços com o Levante Popular.

Em um dos eventos recentes, publicados pela página do Levante Popular da Juventude, o coordenador de Cooperação Social da Fiocruz, Leonídio Sousa, escancarou o objetivo do projeto: "Já estamos estabelecendo uma parceria de alguns anos com o Levante Popular da Juventude e fazendo um avanço significativo para dentro da Fiocruz, inclusive, na aproximação entre os campos da saúde e juventude, mas uma aproximação não somente na construção de campos de conhecimento, mas também da ação política", disse Sousa. Neste ano, as duas entidades abriram um edital para, juntas, publicarem um livro.

O Levante Popular da Juventude se notabilizou pelos protestos agressivos. O grupo promove o que chama de "escrachos" contra seus adversários. No começo da década passada, o Levante depredou e pichou casas de supostos torturadores do regime militar, geralmente com os dizeres "Aqui mora um torturador". Em 2018, a organização atirou tinta sobre o prédio em que mora a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal. O grupo também já pichou a casa de João Doria (PSDB) quando ele era prefeito de São Paulo. Em 2016, o Levante atirou glitter sobre o então deputado federal Jair Bolsonaro. Em 2012, o grupo havia recebido das mãos da presidente Dilma Rousseff uma menção honrosa no Prêmio de Direitos Humanos da Presidência da República.

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