top of page

Catar, o Emirado que engana a todos, e seus facilitadores

Updated: Oct 30, 2019

18/01/2018


- Por Yigal Carmon * -

Tradução Sonia Bloomfield





O Catar encontra-se em apuros devido a uma crise em curso com quatro países que o boicotam - Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito – e este boicote está cobrando seu preço de diversas maneiras. Assim, o Catar foi levado a buscar ajuda externa. Baseado em um antigo estereótipo anti-semita, o  de que os judeus controlam a política nos EUA, o Catar contratou um escritório de advocacia formado por judeus, dentre outros lobistas, para defendê-lo. Esta empresa tem se aproximando dos líderes judeus nos EUA para convencê-los a tomar o lado do Catar em seu conflito com seus vizinhos. Além disso, vários líderes e organizações judaicas foram convidados a visitar o Emirado, e alguns deles, depois de "alguns dias em Doha, surpreendentemente bonito, moderno e hospitaleiro" [1], retornaram e passaram a apoiar a posição do Catar. Sua conduta lembra a visita feita à Coréia do Norte pelo ex-grande jogador da NBA Dennis Rodman, que se tornou um ávido fã de Kim Jong-un.


É triste ver líderes judeus americanos reforçando estereótipos anti-semitas, interferindo de forma ignorante em conflitos internos que não lhes dizem respeito, conflitos inter-árabes complexos que são difíceis de avaliar, mesmo que apenas como observadores. Mas uma vez que eles agiram assim, cabe a nós tentar corrigir os danos causados.


Por exemplo, um desses apoiadores do Catar escolheu comparar as posições do Catar e da Arábia Saudita com relação a Israel baseando-se em incidentes relacionados ao mundo dos esportes. Ele chegou à conclusão de que o Catar é o mais pró-israelense dos dois países porque havia recebido um tenista israelense para participar de um torneio, enquanto a Arábia Saudita havia excluido um jogador de xadrez israelense que havia se classificado para participar de um torneio internacional em Riad. Uma avaliação mais séria teria notado que a Arábia Saudita apóia uma paz palestino-israelense como parte do "acordo do século", promovido pelo governo dos EUA, enquanto o Catar procura sabotar este acordo mediado pelos norte-americanos. Além disso, embora não seja um farol brilhante em direitos humanos, a Arábia Saudita prendeu milhares de sheiques extremistas e está iniciando reformas sociais naquele país, enquanto o Catar cultiva a Irmandade Islâmica e o Hamas. Portanto, se alguém insiste em julgar os dois países com base em suas atitudes em relação a Israel – o que é uma má idéia --, deve levar todos esses fatos em consideração antes de proferir qualquer julgamento.


O professor Alan Dershowitz, conhecido defensor da liberdade de expressão e da mídia independente, e um daqueles que visitaram o Catar, escreveu um artigo defendendo a Al-Jazeera, de propriedade do governo do Catar, em nome da liberdade de expressão. Aparentemente, ele não sabe que esta rede - em contraste com a imagem que ela cultiva com tanto sucesso no Ocidente - não é livre nem independente, mas sim o braço de mídia governamental do Catar, evitando mencionar quaisquer discussões sobre problemas internos naquele país; por exemplo, ela nunca mencionou o poeta dissidente do Catar, Mohammed al-'Ajami, que ficou preso por três anos por recitar um poema considerado crítico ao Emir. Ao invés disto, a Al-Jazeera, tal qual a mídia norte-coreana, restringe a cobertura doméstica a relatos adocicados sobre os supostos sucessos do Emir e do Catar. O caráter "independente" da Al-Jazeera também ficou claro quando da cobertura sobre os recentes acontecimentos no Irã: ela foi reticente no relato sobre o levante popular naquele país, mas generosa na cobertura das manifestações organizadas pelo regime em favor do governo de Khamenei. Esses meios de comunicação não merecem ser defendidos com base na liberdade de expressão, assim como aqueles dirigidos pelo Kremlin (o “Russia Today”), pelo governo chinês (o “Chinese People's Daily”) ou pelo governo iraniano (”Iranian Tehran Times”).


O professor Dershowitz disse que ele era frequentemente entrevistado no canal inglês da Al-Jazeera e o achava geralmente justo. No entanto, a Al-Jazeera, em inglês, não se compara à sua contrapartida no idioma árabe, exemplificando assim mensagens duplas por excelência. Este canal civilizado no idioma inglês, destinado ao público ocidental, contrasta fortemente com o canal árabe que agita as multidões no mundo islâmico. O professor Dershowitz deveria conversar  com o especialista da CSIS [Centro de Estudos Internacionais Estartégicos] Anthony Cordesman, que abandonou no meio uma entrevista na Al-Jazeera para protestar contra seu flagrante viés antiamericano e padrões jornalísticos de péssima qualidade. Veja “Anthony Cordesman sai da entrevista da Al-Jazeera para protestar contra a linha de perguntas antiamericanas”.


Quanto à posição da Al-Jazeera (ou seja, do governo do Catar) sobre terrorismo, aqui estão alguns exemplos, passados e presentes, que podem auxiliar na formação de uma avaliação criteriosa dessa posição:


A Al-Jazeera serviu como porta-voz de Bin Laden e retransmitiu seus apelos ao mundo árabe e muçulmano. Dois meses antes dos ataques de 11 de setembro, a rede permitiu que o porta-voz da Al-Qaeda, Suleiman Abu Gheit, a utilizasse para recrutar jovens muçulmanos através de um de seus programas. O anfitrião do programa era totalmente favorável ao recrutamente. Veja: “Terror in America (30) Retrospectiva: Um especial sobre Bin Laden na Al-Jazeera dois meses antes do 11 de setembro”.


A Al-Jazeera emprega um repórter, Tayseer 'Alouni, que foi condenado na Espanha a sete anos de prisão por atuar como mensageiro financeiro da Al-Qaeda. A organização chegou até a emitir uma declaração de apoio a ele. Veja: “A transmissão de notícias pela Internet da Al-Qaeda expressa solidariedade com o repórter da Al-Jazeera Tayseer 'Alouni, que foi condenado a sete anos de prisão por um "tribunal espanhol infiel formado por Cruzados".


Em 2014, a Al-Jazeera emitiu uma entrevista simpática e longa com Abu Muhammad Al-Joulani, comandante da filial da Al-Qaeda na Síria, Jabhat Al-Nusra. Veja: Em entrevista abrangente, o comandante de Jabhat Al-Nusra Al-Joulani discute a jihad na Síria e declara: Nosso conflito com o ISIS foi resolvido.


Quando Samir Al-Quntar, um terrorista condenado pelo assassinato brutal de uma menina de quatro anos e bem como do seu pai no ano de 1979, foi libertado da prisão israelense, a Al-Jazeera TV fez uma festa em sua homenagem, completa com um grande bolo , uma banda musical e fogos de artifício. (Al-Quntar assassinou a criança atirando sua cabeça contra uma pedra na praia de Nahariya, depois de atirar em seu pai que estava a seu lado). Veja: TV Al-Jazeera dá uma festa de aniversário para o terrorista libanês Samir Al-Qunta.


Em um programa ao vivo da Al-Jazeera, a Al-Jazeera permitiu que o estudioso islâmico Hussein Muhammad Hussein jurasse lealdade ao Emir dos Crentes Abu Bakr Al-Baghdadi. Veja: Acadêmico Islâmico Jura Fidelidade ao Emir do ISIS Abu Abu Bakr Al-Baghdadi ao vivo na TV Al-Jazeera.


Em um programa ao vivo, A Al-Jazeera também permitiu que o terrorista Anis Al-Naqqash conclamasse seus telespectadores a atacarem instalações de petróleo dos EUA. Veja: Terrorista Anis Al-Naqqash apela na TV Al-Jazeera por ataques contra instalações petrolíferas dos EUA.


Quando, em setembro de 2017, Omã deportou o clérigo indiano Salman Al-Nadwi por incitação contra o presidente norte-americano e o rei saudita, ele foi recebido no Catar. Na manhã seguinte, ele se encontrou com o ideólogo anti-americano da Irmandade Muçulmana, Sheik Yousuf Al-Qaradawi, que está hospedado no Catar há anos. Para ver o discurso de incitação de Al-Nadwi, veja: Omã deporta o clérigo indiano Salman Al-Nadwi para o Catar depois de ele ter criticado o rei saudita e o presidente dos EUA.


Para um perfil de Salman Al-Nadwi, que é apoiador do Estado Islâmico desde a sua fundação em 2014, consulte: Em carta, o principal estudioso islâmico indiano Maulana Salman Al-Nadwi parabeniza Abu Bakr Al-Baghdadi por assumir o papel de califa: "Você Estão bravamente de pé como uma rocha. "


Quanto ao próprio Sheique Yousuf Al-Qaradawi, convidado permanente e  protegido pelo Catar, o MEMRI já publicou vários relatórios sobre ele. Sobre uma de suas declarações mais virulentas, na qual ele elogiou os nazistas e e disse esperar, "Que seja a vontade de Allah ", por um segundo holocausto a ser realizado pelos muçulmanos,  veja: Sheik Yousuf Al-Qaradhawi: Allah impôs Hitler aos judeus para Puni-los - "Allah, a próxima vez estará nas mãos dos crentes islâmicos".


Para um relatório recente do MEMRI sobre o sheique, veja: Sheikh Yousuf Al-Qaradawi incita a resistência, a jihad e o martírio após o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelo presidente dos EUA Donald Trump.


Com relação ao apoio do Catar ao Hamas, os admiradores do emirado repetiram  sua alegação de que sua ajuda financeira é canalizada apenas para a construção civil e que isso é feito em coordenação com Israel. Aparentemente, esses admiradores foram iludididos, pois o Hamas, que usurpou o controle da OLP em um golpe encharcado de sangue no ano de 2007, está agora discutindo um "acordo de reconciliação" com a OLP, ao mesmo tempo em que impede o retorno deste a Gaza, e controla com punho de ferro Gaza e todos os tipos de ajuda recebida. Portanto, a "construção" em Gaza provavelmente incluirá não apenas a construção de casas, mas também túneis subterrâneos construídos para atacar Israel em seu próprio espaço nacional. Quanto à alegação de que a ajuda é transferida em coordenação com Israel, os advogados do Catar deveriam ter citado diretamente as autoridades israelenses, em vez de citar informações de segunda mão do próprio Catar sobre a posição israelense.


É difícil culpar os facilitadores judeus (e não judeus) do Catar por terem errado; afinal, eles estão em boa companhia. O próprio governo dos EUA foi enganado pelo Catar por mais de uma década. Desde que o atual pai do emir depôs seu próprio pai, o Catar vem jogando um jogo duplo com os EUA. Se por um lado, construiu a base Al-Udeid para as forças norte-americanas, gratuitamente, não foi por razões altruístas, mas sim para defender seu regime contra seus vizinhos regionais. Por outro lado, o Catar foi e é um facilitador de todos os elementos antiamericanos na região. A Al-Jazeera era uma grande plataforma para a Al-Qaeda no mundo muçulmano e até hoje mantém uma linha antiamericana na maioria de suas transmissões. Isso definitivamente está em desacordo com os interesses norte-americanos, pois desperta o mesmo sentimento antiamericano que a base Al-Udeid pretende lutar contra. Essa política de dupla face é absurda.


Compreender o Catar requer conhecimento e discernimento sobre as nuances e o subtexto dos assuntos do Oriente Médio. E, como em uma boa prática judicial, é crucial ouvir os dois lados. Os facilitadores do Catar não o fizeram, e isso prejudica a defesa do Catar. Ninguém - especialmente judeus norte-americanos - deve se transformar em um facilitador do Catar.



* Yigal Carmon é o fundador e presidente do MEMRI.

[1] O texto foi extraído de um tweet de Mike Huckabee, o qual visitou o Catar em janeiro de 2018.

32 views0 comments
bottom of page