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Brasil pode ir para hiperinflação muito rápido diz Paulo Guedes

- O ESTADO DE SÃO PAULO - 10 Nov, 2020 -

Lorenna Rodrigues, Eduardo Rodrigues e Thaís Barcellos -


Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro Foto: Ueslei Marcelino/Reuters - 7/10/2020

'Brasil pode ir para hiperinflação muito rápido se não rolar dívida satisfatoriamente', diz Guedes

Ministro disse se sentir frustrado por ainda não ter conseguido vender nenhuma estatal e afirmou que acordos políticos no Congresso impediram privatizações

Lorenna Rodrigues, Eduardo Rodrigues e Thaís Barcellos, O Estado de S.Paulo

10 de novembro de 2020 | 11h50 Atualizado 10 de novembro de 2020 | 14h21

BRASÍLIA e SÃO PAULO — O ministro da EconomiaPaulo Guedes, afirmou nesta terça-feira, 10, que o Brasil pode "ir para uma hiperinflação muito rápido" se não rolar a dívida satisfatoriamente. No evento "Boas práticas e desafios para a implementação da política de desestatização do governo federal", organizado pela Corregedoria-Geral da União (CGU), ele se disse frustrado por não ter conseguido ainda privatizar nenhuma empresa estatal, como prometido na campanha do presidente Jair Bolsonaro, e defendeu desinvestimentos para reduzir o endividamento público.

Os economistas classificam de "hiperinflação" quando o principal conjunto de preços de um País — o Índice Nacional de Preços a Consumidor Amplo (IPCA), no caso brasileiro — aumenta de valor em mais de 50% em um mês. O Brasil viveu mais de uma década nessa situção, entre o começo dos anos 1980 e o lançamento do Plano Real em 1994. Em março de 1990, a inflação mensal ultrapassou a casa dos 80%.

Como comparação, em outubro deste ano o IPCA subiu 0,86%, de acordo com dados divulgados na sexta-feira, 6, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O centro da meta de inflação para todo o ano de 2020 é de 4%, mas os analistas de mercado esperam um índice de 3,20% neste ano, de acordo com o Relatório Focus do Banco Central publicado na segunda-feira, 9.


"Estou bastante frustrado com o fato de estarmos aqui há dois anos e não termos conseguido ainda vender nenhuma estatal. Por isso, um secretário nosso foi embora [Salim Mattar, que deixou o ministério em agosto]. Entrou outro [Diogo Mac Cord] que só tem que fazer um gol pra ganhar; o outro fez zero", afirmou.


O ministro disse que acordos políticos na Câmara dos Deputados e no Senado impediram as privatizações. "Precisamos recompor nosso eixo político para fazermos as privatizações prometidas na campanha", completou.


Sem conseguir levar desinvestimentos nem a venda de imóveis públicos para frente, Guedes ressaltou que o País carrega empresas e bens ineficientes, enquanto tem uma dívida que cresce como "bola de neve". "Se tivéssemos matado a dívida, estaríamos com recursos alocados para fazer transferência de renda", completou.


Em outro evento também nesta terça, o ministro afirmou que,  até dezembro de 2021, quatro estatais já deverão ter sido vendidas: Correios, Porto de Santos, Eletrobrás e PPSA, que administra o sistema de partilha de petróleo. “Até dezembro, essas quatro devem estar feitas. E muitas outras. Esse é o ponto de partida. Estamos propondo isso para o Congresso nos próximos 30 a 60 dias”, disse, em evento virtual sobre países emergentes, organizado pela agência Bloomberg.

Guedes acredita que, se houver sucesso na venda dessas quatro empresas, o Brasil pode recuperar dois terços do que foi gasto para combater os efeitos da pandemia de coronavírus, cerca de R$ 800 bilhões, em um ano e meio. “Eu não acredito que seremos bem sucedidos em vender tudo, é só para te dar ideia do montante. Por outro lado, acredito que vamos vender muitas outras companhias. Esse é só o primeiro movimento”, afirmou, se contradizendo.


Segundo ele, os Correios devem ser alvo de grandes companhias de comércio eletrônico, principalmente com o crescimento dessa modalidade da economia.


O ministro da InfraestruturaTarcísio Freitas, que participou do evento da CGU, ressaltou que é preciso bons projetos e editais, elaborados com transparência e que garantam segurança jurídica. "Só conseguimos vender o que o mercado quer comprar. O mercado participará se perceber que há transparência na elaboração de projetos."

Missão de acelerar as privatizações

Em sua fala no encontro, do qual também participaram o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)Gustavo Montezano, e o secretário de Desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, Guedes disse que os dois têm a missão de acelerar o programa de privatizações. "Tem que começar pela Cedae, é um ativo que já poderia ter sido desestatizado", disse, em referência à empresa de saneamento do Rio de Janeiro, que está no programa de recuperação fiscal do governo federal.

Sem citar diretamente, Guedes comentou ainda as eleições dos Estados Unidos e disse que as democracias estão "em transe". "Um candidato questiona se foi eleito, outro diz que tem uma fraude. A inquietação do Ocidente é porque ele não está aguentando a competição [do Oriente]", completou.

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