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Aumento das exportações da China pode significar pouco a longo prazo

- THE EPOCH TIMES - Milton Ezrati - TRADUÇÃO CÉSAR TONHEIRO - 27 JUN, 2022 -

Contêineres empilhados no porto de Yantian em Shenzhen, na província de Guangdong, no sul da China, em 22 de junho de 2021. (STR/AFP via Getty Images)

Este aumento é um sinal falso. Os fundamentos chineses apontam noutra direção.


Maio foi um grande mês para as exportações chinesas. Segundo a Administração Geral das Alfândegas, todavia este mês, no qual existem dados disponíveis, registou-se um aumento de 12,7% em valores comparado a abril das exportações da China.



O governo observa que, se esse ritmo se mantiver, superará a fraqueza dos meses anteriores, de modo que 2022 em geral verá um crescimento de 15% nas exportações em relação a 2021. Essa jogada de números está totalmente equivocada.


O que aconteceu em abril foi uma resposta pontual à reabertura do Porto de Xangai. Não repetirá. Nos próximos meses, na verdade anos, uma série de forças manterá lento o crescimento das exportações chinesas.


Confrontando com o crescimento das exportações chinesas no final do ano, observamos que estão mudando os padrões de gastos do consumidor na Europa e na América. Durante a emergência do COVID-19 e mesmo na recuperação de 2021, as famílias americanas e europeias gastaram muito em equipamentos de entretenimento doméstico e em maneiras de facilitar o trabalho remoto.


Essas tendências beneficiaram muito a aparente força da China na montagem de equipamentos eletrônicos. Mas agora que o Ocidente começou a viajar novamente e buscar entretenimento fora de casa, os gastos passaram de tais produtos para serviços. Os produtores chineses já estão sentindo.


Tomemos, por exemplo, a Shenzhen Teanabuds Electronics, fabricante de fones de ouvido sem fio, fones de ouvido convencionais e alto-falantes. Ela informa que suas vendas para a Europa, América e Oriente Médio caíram 50% em relação aos níveis do ano passado. Da mesma forma, a Guangzhou GL Supply Chain, fabricante de suprimentos para jardinagem e utensílios domésticos simples, também viu seus pedidos no exterior caírem pela metade. Estes são apenas dois exemplos e são reconhecidamente extremos, mas não deixam de ser indicativos.

Contêineres são vistos no porto de águas profundas de Yangshan, em Xangai, China, em 19 de outubro de 2020. (Aly Song/Reuters)

Ainda mais assustador para as exportações chinesas é a crescente necessidade do Ocidente de implementar políticas contra-inflacionárias. A recuperação pós-COVID de 2021 do Ocidente, da qual as exportações chinesas se beneficiaram muito, recebeu grande apoio das políticas monetárias e fiscais frouxas da Europa e da América. Mas agora, a pressão inflacionária exigiu uma mudança em tais posturas políticas.


Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) começou a retirar liquidez do sistema financeiro e aumentar as taxas de juros – em 1,5% apenas nos últimos dois meses. O Fed promete intensificar essa restrição daqui para frente. Tais mudanças restringirão o crescimento econômico e o apetite por produtos chineses.


Até agora, Washington fez poucas mudanças em sua política fiscal, mas dá evidências que não estenderá o estímulo econômico como fez. A Europa está atrás dos Estados Unidos em tais medidas contrainflacionárias, mas claramente pensa em medidas similares. De fato, as mudanças nas políticas já levantaram preocupações sobre a recessão na Europa e na América, dificilmente uma boa perspectiva para as exportações chinesas.


Talvez o mais ameaçador sejam as tendências que crescem diretamente dos ganhos de desenvolvimento da China. Grande parte do notável boom de exportação da China no passado refletiu os atrativos da força de trabalho disciplinada e barata do país. Ofereceu vantagens de custo tão grandes que a China se tornou um local de referência para fabricantes europeus e americanos estabelecerem operações e obterem instalações de propriedade chinesa. Mas, à medida que a economia da China se desenvolveu e a população se tornou mais abastada, essas vantagens de custo começaram a desaparecer.

Pessoas recebem testes de ácido nucleico para o COVID-19 em Shenzhen, província de Guangdong, em 6 de junho de 2021. (STR/AFP via Getty Images)

O índice de frete de container de Xangai continua alto o suficiente para desencorajar o transporte. Embora tenha caído cerca de 17% até agora este ano, ainda assim representa quatro vezes os níveis pré-pandêmicos. Essa diferença de custo está convencendo alguns compradores estrangeiros a aproximar as fontes de produção do ponto de venda na Europa e América. Ao mesmo tempo, nos últimos cinco anos, os salários dos chineses subiram 9,5% por ano, muito mais rápido do que os custos comparáveis em outros lugares da Ásia. Os custos de logística doméstica também aumentaram rapidamente.


Todos começaram a convencer os compradores ocidentais a mudar suas fontes para lugares como Vietnã, Indonésia, Filipinas e outros locais. O Vietnã já conquistou grandes porcentagens de pedidos de produtos que antes eram feitos quase exclusivamente na China. Resumindo, o diretor de marketing global da Shenzhen Teanabuds Electronics, Zhang Wanli, reclamou: “Estamos perdendo nossa vantagem”.


Com o tempo, algumas das adversidades mais imediatas se dissiparão. Mas uma mudança para políticas econômicas mais judiciosas no Ocidente deve durar, talvez por anos. A contínua erosão das vantagens de custo da China manterá as pressões que restringem as exportações por ainda mais tempo.


É exatamente essa realidade em desenvolvimento que incitou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a recomendar que a China reoriente sua economia da dependência das exportações para uma maior dependência das demandas do consumidor doméstico. É um passo que Pequim há algum tempo considera essencial. Até o momento, no entanto, as autoridades pouco fizeram para facilitar isso.


Talvez o crescimento restrito das exportações induza a mudança que Pequim diz querer, mas ainda não realizou. Isso, no entanto, pode ser um passo longe demais para os planejadores que contam com as exportações como o motor do crescimento há décadas.


As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.


Milton Ezrati é editor colaborador do The National Interest, afiliada do Center for the Study of Human Capital da University at Buffalo (SUNY), e economista-chefe da Vested, uma empresa de comunicação com sede em Nova York. Antes de ingressar na Vested, ele atuou como estrategista-chefe de mercado e economista da Lord, Abbett & Co. Ele também escreve frequentemente para o City Journal e bloga regularmente para a Forbes. Seu último livro é "Thirty Tomorrows: The Next Three Decades of Globalization, Demographics, and How We Will Live".


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