- EURO NEWS - Jorge Liboreiro - 4 ABRIL, 2023 -
Sanna Marin, a carismática primeira-ministra finlandesa cuja popularidade ultrapassou as fronteiras nacionais e atraiu a atenção mundial, foi afastada do poder.

Embora o seu Partido Social-Democrata (centro-esquerda) tenha conquistado três assentos em relação às eleições de 2019, os resultados das eleições legislativas atiraram-na para o terceiro lugar, atrás do partido de centro-direita Coligação Nacional e do partido de extrema-direita Finns Party (Partido dos Finlandeses).
Para os Socialistas e Democratas (S&D), o grupo do Parlamento Europeu que reúne os socialistas de toda a União Europeia, a saída de Marin representa mais um capítulo numa série de deceções eleitorais pungentes.
No início de março, o Partido Social Democrata (SDE) da Estónia ficou em quinto lugar nas eleições legislativas do país, com 9,2% dos votos.
Em setembro, a Suécia, um reduto socialista confiável, mudou de rumo e elevou Ulf Kristersson, líder do partido conservador sueco Moderados, ao cargo de primeiro-ministro.
No mesmo mês, o Partido Democrático (PD) de Enrico Letta ficou abaixo das expectativas nas eleições legislativas de Itália, perdendo assentos nas duas câmaras do parlamento e abrindo caminho para a vitória de Giorgia Meloni e a sua coligação tripartida de extrema-direita.
Também no ano passado, Anne Hidalgo, a candidata do Partido Socialista (PS), obteve 1,75% dos votos na primeira volta das eleições presidenciais em França, uma derrota de proporções históricas que empurrou o partido de 53 anos para o fundo do poço da irrelevância.
Apesar de cada país ser uma amálgama única de tradições políticas, cultura nacional e crenças sociais, o surgimento de um padrão europeu está-se a tornar cada vez mais difícil de ignorar para os socialistas.
"Há duas coisas que estão a acontecer. Por um lado, é um momento difícil para os partidos no governo, com o aumento do custo de vida e os altos preços da energia", disse à Euronews Nicolai von Ondarza, cientista político e investigador do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).
"Em segundo lugar, eu diria que, os partidos de centro-esquerda, em particular, tiveram problemas nos últimos 20 anos”, acrescentou.
Apesar das vitórias importantes nos últimos anos, principalmente quando Olaf Scholz sucedeu a Angela Markel como chanceler alemão depois de 16 anos de governos conservadores, a tendência ascendente parece estar estagnada.
"As recentes eleições mostraram-nos que esta foi apenas uma tendência curta e que, se for o caso, os partidos de centro-esquerda só podem governar em coligações mais complexas", ressalvou von Ondarza.
"Os socialistas dificilmente são uma força dominante em qualquer país europeu."
Iratxe García, líder do grupo S&D no Parlamento Europeu, desafiou a perspetiva pessimista e interpretou o resultado finlandês como os cidadãos a atribuírem ao mandato de Marin uma "avaliação positiva."
"No entanto, a ascensão da direita e da extrema-direita é algo preocupante", disse García à Euronews.
"Vamos acompanhar de perto as negociações e o programa do novo governo para que não se afastem da agenda pró-europeia definida pelo governo anterior."
Uma inclinação gradual para a direita
Com a porta fechada a Marin para uma segunda candidatura como primeira-ministra, a dinâmica de poder no Conselho Europeu, a instituição que define a orientação política da União Europeia (UE), deve mudar mais uma vez, aprofundando ainda mais a inclinação para a direita que começou no ano passado.
Dos 27 Estados-membros da UE, os socialistas terão cinco chefes de governo: Olaf Scholz da Alemanha, Pedro Sánchez, de Espanha, Mette Frederiksen, da Dinamarca, António Costa, de Portugal, e Robert Abela, de Malta.
Três deles – Frederiksen, Costa e Abela – foram reeleitos no ano passado, enquanto Scholz deve permanecer no poder até ao outono de 2025.
Do outro lado da mesa, os liberais dominam em França, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Estónia e Eslovénia. Uma variedade de partidos conservadores domina as nações restantes, desde o Partido Popular Europeu (EPP) na Grécia, Áustria, Suécia e provavelmente em breve na Finlândia, aos Conservadores e Reformistas Europeus de extrema-direita (ECR) em Itália, Polónia e Chéquia.
"Isto sublinha a tendência de um Conselho Europeu mais virado para a direita nas questões económicas, sociais e ambientais, mas também de um Conselho Europeu que se manterá unido, por exemplo, sobre como responder à guerra na Ucrânia", referiu von Ondarza.
"O efeito será mais gradual do que revolucionário. Afinal, a Finlândia não é enorme, mas é mais uma peça do puzzle que leva a um Conselho Europeu mais dominado pelo centro-direita.”