- THE EPOCH TIMES - John Mac Ghlionn - TRADUÇÃO CÉSAR TONHEIRO - 30 MAR, 2022 -

De todas as coisas do mundo, a comida é uma das poucas coisas capazes de unir as massas. A falta dela, no entanto, tem o poder de fazer exatamente o oposto, levando as pessoas à beira da loucura.
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Julian Cribb, um ilustre escritor de ciência e autor de “The Coming Famine”, adverte que a escassez global de alimentos está chegando. Devido à “escassez de água, terra e energia combinada com o aumento da demanda da população e do crescimento econômico”, o mundo está mal preparado para os horrores que o aguardam.
De acordo com a acadêmica Monica Caparas, a “probabilidade de falhas no rendimento das colheitas é projetada para ser até 4,5 vezes maior até 2030 e até 25 vezes maior até 2050 nos celeiros globais”. As culturas de maior risco são arroz, milho, soja e trigo.
Vários países ao redor do mundo estão em risco significativo de falhas no rendimento das colheitas. A China é um deles.
Neste momento, de Guilin a Guangzhou, existe escassez de alimentos e as pessoas estão longe de serem felizes. Pessoas famintas são pessoas perigosas. Em 1906, Alfred Henry Lewis declarou: “Existem apenas nove refeições entre a humanidade e a anarquia”. O Partido Comunista Chinês (PCC) sabe disso muito bem, daí sua tentativa desesperada de estabelecer alguma forma de segurança alimentar.
No ano passado, pouco antes do início da safra de outono, a Bloomberg publicou um artigo documentando a situação nas províncias de Jilin, Liaoning e Heilongjiang, “onde cerca de metade do milho e da soja da China são cultivados”.
A interminável crise energética da China, advertiram os autores, estava criando outra crise — uma crise alimentar. Combine os problemas de energia do país com seus significativos problemas de poluição do ar e você terá uma receita para o desastre causado pelas colheitas. É por isso que o PCC tem, há algum tempo, lutado para formar alianças ao redor do mundo, contando com terras estrangeiras para fornecer algum sustento muito necessário.
Você sem dúvida conhece o Belt & Road, a Iniciativa do Cinturão e Rota da China (BRI, também conhecida como “Um Cinturão, Uma Rota”), uma estratégia global de desenvolvimento de infraestrutura adotada pelo PCC. Esta estrada é traiçoeira, pavimentada com os arrependimentos e lágrimas de países altamente endividados.

Mas o que é a “Rota da Seda Alimentar”, um empreendimento apoiado por Pequim que busca remodelar as cadeias globais de fornecimento de alimentos?
Esta estrada em particular está sendo financiada por meio de investimentos agrícolas em todo o mundo, bem como a aquisição de novas tecnologias agrícolas. Esta estrada começa na China, entra na Europa, depois penetra no continente africano, passando por cidades como Kigali, Lagos, Lomé e Maputo.
Aliança China-África
Lançada em 2017, a Estratégia de Cooperação Agrícola China-África busca “alavancar os recursos públicos e privados da China (financiamento, produto e tecnologia, conhecimento) para catalisar, dimensionar e sustentar a transformação da agricultura inclusiva”, de acordo com o site da Aliança para uma Revolução Verde na África.
Considerando que 60% das terras aráveis do mundo estão na África, a aliança é uma bênção para Pequim. Afinal, a China, que abriga 19% da população mundial, tem apenas 10% da terra arável do mundo.
Os três países africanos com mais terras aráveis — Maurício, Ruanda e Togo — receberam investimentos significativos de Pequim.
Em janeiro de 2021, entrou em vigor o acordo bilateral de livre comércio (FTA) China-Maurícios, o primeiro FTA entre a China e um estado africano. Ambas as partes, nos dizem, “reconhecem que a agricultura constitui uma atividade central para ambas as partes e que o aprimoramento desse setor pode melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico”.
Enquanto isso, em Ruanda, a China investiu – e continua investindo – fortemente em produtos e serviços relacionados ao agro. Somente em 2020, as empresas chinesas investiram mais de US$ 300 milhões no país sem litoral, com o setor agrícola recebendo muita atenção.
No Togo, acordos semelhantes estão acontecendo. No primeiro semestre de 2021, o comércio entre Togo e China totalizou US$ 380 milhões.
A China depende dos países africanos acima (e outros) para importar toda uma série de itens alimentares, de abacate a sementes de gergelim, pimenta a caju, de acordo com o South China Morning Post. Em dezembro passado, como observou o SCMP, o PCC prometeu abrir várias “'vias verdes' para produtos agrícolas africanos no país para atingir uma meta de importação de US$ 300 bilhões”.

Entre janeiro e julho do ano passado, o volume de comércio entre a China e a África atingiu US$ 139,1 bilhões. A dependência da China da África para várias frutas e vegetais, bem como nozes e sementes, para não mencionar suas tecnologias agrícolas, não pode ser enfatizada o suficiente.
A Nigéria, o país que mais cresce na África e lar de uma das economias que mais crescem no mundo, tornou-se “um destino importante para o investimento estrangeiro direto na manufatura chinesa”, segundo pesquisadores do International Food Policy Research Institute. Os chineses parecem estar particularmente interessados em “transferência de tecnologia” e “parcerias técnicas entre empresas”.
No ano passado, o embaixador chinês na Nigéria, SE Cui Jianchun, disse que o PCC havia identificado a agricultura como o setor primário para investimentos consideráveis. De acordo com Jianchun, “Já identificamos quatro áreas para investir substancialmente, que são a pesca, arroz, mandioca e cultivo de banana”.
Uma pesquisa publicada por De Boeck Supérieur descreve como o PCC vem investindo agressivamente na agricultura africana há quase 30 anos, planejando para o dia em que os agricultores do país não poderão mais cultivar colheitas suficientes para alimentar seu povo. Esse dia está se aproximando rapidamente.
A “Rota da Seda Alimentar” será suficiente para evitar uma crise de proporções épicas? Na verdade, só o tempo dirá.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
John Mac Ghlionn é pesquisador e ensaísta. Seu trabalho foi publicado pelo New York Post, The Sydney Morning Herald, Newsweek, National Review e The Spectator US, entre outros. Ele cobre psicologia e relações sociais, e tem um grande interesse em disfunção social e manipulação de mídia.