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A Marcha da Hipocrisia

HEITOR DE PAOLA - OFFMIDIA - 20 FEV, 2003


No último final de semana milhões de pessoas saíram às ruas no mundo todo supostamente para defender a Paz. Ondas e ondas de pessoas percorreram as ruas de Londres, Paris, Madrid, Nova York, San Francisco e no resto do mundo, inclusive no Brasil. Porém mais do que conclamação à Paz, vimos e ouvimos manifestações de ódio - contra Bush e Israel, principalmente. Ecoam em meus ouvidos mais palavras de ódio das manifestações do que clamores por Paz e solução dos conflitos. As expressões dos rostos dos manifestantes era de furiosos espumantes e nada tinham a ver com a beatitude pacifista. Todos os brados eram contra a “guerra imperialista dos EUA contra o Iraque”.


To march against the war is not to give
peace a chance. It is to give tyranny
a chance. It is to give the Iraqi nuke a
chance. It is to give the next
terrorist mass murder a chance

Michael Kelly

De 19 a 21 de janeiro, representantes de 26 partidos comunistas se reuniram na Argentina para o Segundo Seminário de Partidos Comunistas e de lá saiu a Resolução para prevenir uma nova “guerra imperialista dos Estados Unidos contra o Iraque”, com a convocação de manifestações, abaixo-assinados, protestos, cartas, etc. Coincidência? Bom, talvez Papai Noel também exista, pois todos nós sabemos que o comunismo acabou, não é mesmo? E que quem fala nisto é paranóico.



É impressionante como a santa ignorância dos inocentes úteis não lhes permite ver que estas marchas e profusão de manifestos nada têm de espontâneos. Não se fazem marchas como estas sem minucioso planejamento e muito, muito dinheiro! Além dos inexistentes comunistas, há outros com localização geográfica precisa e definida, a estimular os raivosos marchadores e assinantes de protestos. A Velha Europa, no dizer de Rumsfeld, França, Alemanha e Bélgica, têm vários interesses antiamericanos em jogo, além do ressentimento e ingratidão. Mas podem estar cavando sua própria sepultura pois que ocorreu algo inesperado: a Nova Europa não aceitou passivamente sua liderança, como no caso do Euro - que a longo prazo só aos dois gigantinhos interessa – e rebelou-se.


Atônito com a ousadia, Chirac, numa clara chantagem aos países vizinhos mais pobres e em fila de espera para ingressar na União Européia, declarou que considerara deplorável a manifestação em apoio aos EUA por parte dos países da antiga Cortina de Ferro – conhecedores na própria pele do que é antiamericanismo - dizendo que tal atitude não foi muito “responsável”. Deu a entender que tal posicionamento poderia dificultar as negociações que prevêem a inserção destes países no grupo da “elite” européia. Mas Chirac teve a resposta que merecia. Ion Iliescu, o presidente romeno, disse que, da mesma forma, França e Alemanha não deveriam ter publicado declaração conjunta contra a guerra sem consultar os demais países do continente. Referindo-se a todos os que assinaram o documento o Los Angeles Times, mostrando a arrogância da quinta coluna, disse que não passava de “um monte de países que podem ser comprados pela eBay”. Itália, Espanha, Dinamarca, Portugal e o Grupo de Vilnius?


Já se havia criado um clima de terror com a ameaça das “ruas árabes” no caso de um ataque ao Iraque. Tanto esta quanto a “rua islâmica” – que inclui o Irã – se recusaram a explodir em manifestações porque a maioria dos árabes e muçulmanos sabem muito bem o que Saddam tem feito contra seu próprio povo e os vizinhos. Só a “rua ocidental” explodiu e nela nenhuma exortação a Saddam, como se ele e seu sangrento regime fossem pobres vítimas do Grande Satã, Bush. Pedia-se pelo contrário, chance à paz, à continuação das inspeções e à Resolução 1441 da ONU, como se esta fosse sobre inspeções. Não é, é uma ordem para Saddam se desarmar! Sobre inspeções foram as 16 Resoluções anteriores, que Saddam, o angelical, sempre burlou até que expulsou os inspetores.


Ora, se só as “ruas ocidentais” explodiram, não parece certo que o interesse na não-guerra é legitimamente ocidental? Da Rússia, que vendeu os mísseis Scud e tanques T-55 e T-80 aos milhares. Da França, que vendeu a primeira usina nuclear do Iraque e aviões Mirage às centenas. Ademais a França necessita vetar qualquer coisa para aparentar que ainda é uma potência mundial, mas que é aliada do Iraque de cujo petróleo retira polpudos lucros. E principalmente da Alemanha.


O imenso envolvimento da Alemanha com Saddam não pode ser descrito aqui. Já em 1991 as ogivas dos mísseis Scud lançados contra Israel continham vários elementos fabricados na Alemanha. Mas não parou aí, desde então o comércio de armas químicas e biológicas se intensificou. Friedbert Pflüeger parlamentar da oposicionista CDS-CSU, como Membro da Comissão de Assuntos Exteriores do Bundestag forçou o Chanceler Schröeder a revelar um relatório secreto do BND (Departamento Federal de Segurança) em que são citados materiais físseis, biológicos e químicos (estes últimos exportados como “produtos farmacêuticos”) exportados por firmas conhecidas como Hoechst, Daimler-Benz, Siemens, Carl Zeiss e outras. A lista inclui material para enriquecimento de urânio. Em março de 2002 a revista New Yorker publicou um relato, concluindo que “estimamos que o Iraque terá uma bomba atômica em três anos”. E há muito mais.


Mas tudo não passa de paranóia de Bush, pois Satã, digo Saddam, é de paz! Prefiro acreditar, como Bob Dylan:


I can smell something cooking
I can tell there’s going to be a feast
You know (baby) that sometimes Satan comes as a man of peace
(A man of peace)

 
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A MARCHA DA HIPOCRISIA
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