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11 de Setembro

HEITOR DE PAOLA - MÍDIA SEM MÁSCARA - 11 SET, 2003


Denis Rosenfield apontou muito bem em seu último artigo [1] que a palavra comunismo é pouco empregada hoje, acrescentando que, não obstante, "o comunismo é um conceito cuja significação pode aparecer sob o manto de outras palavras. Quando posições anticapitalistas são objeto de louvor, quando o antiamericanismo se torna uma questão de princípio, quando a propriedade privada não é respeitada, quando empresários são objeto de menosprezo, quando a democracia representativa é vilipendiada, estamos bem diante do significado do comunismo".


"És, antes de tudo, inteligência. Tua razão é que te faz humano, que te capacita a seres mais do que um simples amontoado de desejos e apetites, que faz de ti um indivíduo auto-suficiente e te dá direito a proclamares que és um fim em ti mesmo". SÓCRATES


Denis Rosenfield apontou muito bem em seu último artigo [1] que a palavra comunismo é pouco empregada hoje, acrescentando que, não obstante, "o comunismo é um conceito cuja significação pode aparecer sob o manto de outras palavras. Quando posições anticapitalistas são objeto de louvor, quando o antiamericanismo se torna uma questão de princípio, quando a propriedade privada não é respeitada, quando empresários são objeto de menosprezo, quando a democracia representativa é vilipendiada, estamos bem diante do significado do comunismo". Quero chamar a atenção para um significado mais profundo da palavra, que está intimamente ligado à sua etimologia. Muito antes de se referir a um sistema político-econômico, a palavra vem de comuna, um tipo especial de organização da vida social na qual predomina a coletividade sobre o indivíduo. As organizações política e econômica são apenas "superestruturas" - para usar a terminologia do codificador das idéias comunistas - do sentido de anulação da individualidade e da submissão do indivíduo aos grupamentos em que está inserido. O grande apelo das idéias comunistas está exatamente na nostalgia de formas tribais de existência onde o indivíduo não se distingue do grupo e só existe em função dele. Obviamente, as armas dos nostálgicos pela existência tribal primitiva estão assestadas contra o seu maior inimigo: o desenvolvimento da noção de individualidade realizado pela civilização ocidental, baseada nas noções judaico-cristãs, gregas e do direito romano - o que Popper denominou apropriadamente de sociedades abertas. Este desenvolvimento, inaugurado por Sócrates com sua crença inabalável do indivíduo como um fim em si mesmo - despedaçou a sociedade fechada e seu credo de que a tribo é tudo, o indivíduo nada. O filósofo inaugurou também a infinita galeria dos que morreram por isto.

As armas intelectuais são poderosas, apelam a sentimentos de solidariedade, cooperativismo e união de esforços. Quem ousa se opor aos fundamentos destas ideologias é logo tratado como um egoísta que só quer o lucro fácil roubando de seus irmãos no grupo social. Ora, quem, em sã consciência, pode ser contra a solidariedade e a cooperação entre os homens? Só que a estratégia é confundir os termos da equação, fazendo com que o superficial passe a fundamento e vice-versa. Que sociedades se baseiam mais nestes princípios fundamentais do que a as sociedades abertas - livres em todos os sentidos, inclusive onde imperam a liberdade econômica e a propriedade privada - que permitem a cada indivíduo decidir o que fazer com sua vida e seus bens? Aqui a individualidade é o fundamento, a cooperação é o corolário necessário, sine qua non, da vida em sociedade. Mas é a cooperação entre indivíduos livres, inclusive para escolherem seus parceiros conjugais e comerciais e seu lugar, e não a indivíduos achatados pela coletividade e sem nenhuma capacidade de decisão própria. Mas o sonho da liberdade está sempre ameaçado pela sedução de uma vida simples, garantida do nascimento até a morte - o que não passa de uma lenda, mas muito bem vendida! - da fraternidade universal, da paz e harmonia eternas entre os homens. E por isto a velha frase - o preço da liberdade é a eterna vigilância - nunca perderá sua atualidade. * * * O dia 11 de setembro representa, com vinte e oito anos de intervalo, dois momentos cruciais na defesa dos valores ocidentais. Em 1973, no Chile, abortava-se a - até então - mais bem urdida trama contra a liberdade na América Latina com o fim do governo comunista de Salvador Allende. Em 2001 o mundo teve a oportunidade de despertar para formas mais ameaçadoras ainda de ataque à liberdade: o fanatismo tribal islâmico. Os inimigos da liberdade contam com uma arma extremamente letal: o absoluto desprezo pela verdade histórica que distorcem a seu favor, sempre invertendo os fatos no sentido de acusar os outros de seus crimes - procedimento que Orwell já identificara em seu 1984. Assim, que sabe hoje a maioria da população sobre as ocorrências daquele dia? Que uma experiência de liberdade e igualdade - de um mundo melhor possível - foi abortada pela sanha de militares sangrentos com apoio do capital internacional. Raríssimas pessoas sabem que foi Allende que rompeu o pacto constitucional com suas atitudes revolucionárias apoiadas por Cuba - de onde se contrabandeavam armas em profusão - e financiadas pela União Soviética e todo o Pacto de Varsóvia. E que a quebra da ordem constitucional fora já denunciada por quem de direito: a Câmara de Deputados [2], [inciso primeiro da Resolução] em 22 de agosto, 19 dias, portanto, antes do movimento militar. E por quê? Vamos aos fatos. Vencedor das eleições de 1970 com apenas 36,5% dos votos, Allende foi escolhido presidente pelo Congresso Nacional Pleno devido a uma divisão do Partido Democrata Cristão cujo candidato, Radomiro Tomic, amargara um terceiro lugar e portanto ficou fora da disputa entre Allende e Alessandri, do Partido Nacional. Sua eleição só ocorreu "após aceitar e assinar um estatuto de garantias democráticas incorporado à Constituição Política, que teve o objetivo preciso de assegurar a submissão aos princípios e normas do Estado de Direito" (2, 4o). Esta exigência se fazia necessária porque todos os partidos que o apoiavam, reunidos na Unidad Popular, eram explicitamente revolucionários [3]. Mas o acordo não foi cumprido, pois o governo "desde o início, se empenhou em conquistar o poder total, (...) submeter todas as pessoas ao mais estrito controle econômico e político (...) e instaurar um sistema totalitário" (2, 5o), cometendo toda sorte de desmandos contra os demais poderes da República. A justificativa para o grande ódio dos tribalistas de esquerda contra Pinochet é o fato de que o regime matou pouco mais de 2 mil pessoas para se estabelecer. Mas esta justificativa não passa de uma deslavada mentira pois se fosse por estes belos sentimentos humanitários, por que jamais condenam os 17 mil mortos do regime de Fidel Castro, mentor intelectual de Allende? Ou os 110 milhões assassinados pelos regimes comunistas desde 1917? As verdadeiras razões são bem outras. Não conseguindo desestabilizar o regime democrático da Venezuela, tendo perdido a oportunidade no Brasil pela pronta atuação da sociedade civil que mobilizou as forças armadas em 1964, fracassando na Bolívia em 67 com a morte de Che Guevara e obtendo um resultado pífio no Peru, com a ditadura militar ultranacionalista de Juan Velasco Alvarado (1968-1975), o Chile era a "bola da vez" em 1973, e tudo levava a crer que iam conseguir. Por outro lado, o regime militar chileno impediu a liberdade política mas implementou a liberdade econômica plena, com seus "Chicago Boys" que demonstrou claramente que o capitalismo dá certo. Tão certo que hoje, 30 anos depois, as manchetes dos principais jornais dizem "Chilenos comemoram Allende mas cultuam secretamente Pinochet" ou "Embora resgatando a figura de Allende, nenhum chileno quer voltar à sua política econômica, mas manter a abertura realizada pelo regime militar". Como a maioria dos chilenos não era nascida ou era criança há 30 anos, comemoram o que? Um mito, o mito Allende, que como bem disse Lucía Pinochet Hiriart, está sendo quase canonizado. Enquanto isto, o paredón castrista só gerou mais miséria. Um outro fator é que, frente à união internacional das organizações terroristas do Cone Sul, no espírito da Conferência Tricontinental de Havana e da OLAS (Organização Latino americana de Solidariedade), o General Manuel Contreras, chefe da DINA (Dirección de Inteligencia Nacional) do Chile organizou os serviços de inteligência da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, na chamada Operação Condor, para enfrentar a ameaça comum. [4] * * * Mesma data, ano de 2001. O mundo teve a oportunidade de entrar em alerta sobre o novo espectro que o ronda, não mais o vermelho, mas o verde, o terrorismo islâmico. A destruição do World Trade Center estarreceu o mundo, mas só por uns instantes. Logo começaram as deturpações da história, características dos comunistas: foram os americanos, ou os judeus para despertar o ódio contra os árabes; os menos paranóicos viram a culpa na "arrogância" americana, e por isto eles mereceram. Tais sandices ainda imperam hoje em dia: "provas" de que foi a CIA circulam até hoje na Internet como se fossem novidades. Em termos racionais, a união entre comunistas ateus e fanáticos religiosos - não só islâmicos, diga-se de passagem, eles proliferam entre nós na chamada teologia da libertação - seria impensável. Mas é exatamente isto que está acontecendo! Bem, não é por nada. O fracasso do eufemisticamente chamado "socialismo real" - como se existisse outro - principalmente do modo vexaminoso com que ocorreu, sem nenhum tiro, num chocho puff!, quando se supunha, durante a Guerra Fria, que teria que haver vários cogumelos atômicos, deixou atônitos os que acreditavam que, apesar da escassez e da miséria - a troca de "manteiga por canhões" - ao menos o poderio militar de sua pátria de coração era enorme. Não era: era um ursinho de papel que enganara meio mundo! Ficaram órfãos mas encontraram os aliados certos: os fanáticos tribalistas muçulmanos, cheios de petróleo e dispostos a fazer qualquer coisa para destruir o Grande Satã, a civilização ocidental e seu conceito de individualidade, tiranicamente reprimida em seus países [5]. Unem-se porque não toleram o que somos, não tanto o que temos. Somos livres e civilizados e sua inveja é terrível. Como bem o disse Frederick Forsyth (O Globo, 10/09/2003), antes os movimentos terroristas queriam, ou alegavam querer, alguma coisa; hoje não, só querem destruir o odiado Ocidente e o Estado de Israel, última fronteira da civilização a oriente. E nada os deterá a não ser o único argumento que conhecem - a força. Infelizmente, em função da própria liberdade de pensar de que gozamos, muitos agem a favor deles, deliberadamente como quintas-colunas ou como idiotas úteis, defendendo a inexistente "tolerância" muçulmana, atacando as iniciativas americanas no Afeganistão e no Iraque - e aonde mais venha a ser preciso - inventando uma superioridade moral da "civilização islâmica". Tal como antes, os ideais comunistas também eram apresentados como moralmente superiores. * * * 11 de setembro de 2003. Hora de acordar e reconhecer o enorme perigo que se nos apresenta, o novo espectro que paira sobre o Ocidente: a bárbara união dos tribalistas islâmicos com os antigos comunistas clássicos. O ataque vem em várias frentes. O terrorismo internacional suicida é a ponta do iceberg. Na América Latina, os movimentos revanchistas contra os governos que os enfrentaram nas décadas de 60 e 70, e os derrotaram, no Brasil, no Chile, na Argentina e no Uruguai. A Europa está sofrendo, pela imigração legal e ilegal, uma verdadeira nova invasão bárbara, aos moldes daquelas que arruinaram o Império Romano. Mas o pior é a conquista das mentes ocidentais com mentiras, falsas informações, distorções históricas, exploração do anti-sionismo - expressão do sempre latente anti-semitismo - o ataque a todos os símbolos da civilização judaico-cristã, a perseguição dos cristãos em todo o mundo. Last but not least, o ressurgimento periódico e constante das idéias sobre a "decadência do ocidente", delírio profético de Oswald Spengler que já fez aniversário de 100 anos. Nos últimos 50 anos já ouvi incontáveis vezes dizerem que os Estados Unidos agora acabaram, comparando este país ao Império Romano. Contrariando aquelas fantasias, no entanto, o Ocidente e sua expressão de organização social, a democracia liberal, tem ficado cada vez mais forte, ganhou duas guerras do Oriente e creio que vencerá a próxima que não será, como disse Samuel Huntington, entre civilizações, mas entre a civilização e a barbárie. [1] AUSÊNCIA DE PENSAMENTO http://www.estado.estadao.com.br/editorias/03/09/08/aberto002.html [2] DECLARAÇÃO DA QUEBRA DA DEMOCRACIA CHILENA http://www.midiasemmascara.com.br/materia.asp?cod=1443 V. também O GOLPE DE 1970 NO CHILE http://www.midiasemmascara.com.br/materia.asp?cod=1435 [3] cf. PINOCHET: DITADOR ASSASSINO OU SALVADOR DA PÁTRIA? Artigo de Rodrigo C. dos Santos, http://www.midiasemmascara.com.br/materia.asp?cod=1435 [4] Depois deste artigo estar escrito tive acesso ao excelente artigo de Carlos Ilich Santos Azambuja sobre o tema, Operação Condor. V. http://www.midiasemmascara.com.br/materia.asp?cod=1442 [5] Para conhecer a organização social dos países islâmicos ver meus artigos sobre o tema em Mídia Sem Máscara.


 
MSM 11 de setembro de 2003

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